‘Brasil deve ter 3 mil mortes diárias por Covid-19 nas próximas semanas’, diz infectologista

Especialista Alexandre Naime afirma que números devem ser ainda maiores do que os registrados hoje caso o país não tome medidas emergenciais contra a Covid-19

  • Por Jovem Pan
  • 04/03/2021 14h04
EFE/ Raphael Alves pessoas de máscara se abraçando Brasil deve ultrapassar marca de 3 mil mortes por dia, estima especialista

Diante de uma série de estados brasileiros decretando fechamento total de comércios, bares e restaurantes para tentar conter a propagação da pandemia da Covid-19, a opinião de especialistas sobre o futuro do país não é positiva. A expectativa de médicos é que os números de mortes, que na segunda onda da doença batem recordes diários, continuem a subir. “Muito provavelmente esse número e 1.910 óbitos por dia vai subir, nós teremos, infelizmente, a meta de 2 mil óbitos por dia atingida e francamente muitos cientistas já projetam que se nada for feito de forma emergencial, o Brasil pode chegar à marca de 3 mil óbitos por dia nas próximas semanas”, afirmou o chefe de infectologia da Unesp e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime, em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, nesta quinta-feira, 4.

O médico lembrou que o país se aproxima da marca dos 260 mil mortos e listou uma série de atitudes que podem ter contribuído para um número tão grande de óbitos: a falta de adesão às normas de restrição por parte dos brasileiros; a “vacinação em ritmo de tartaruga lenta” e a circulação da variante P1, com carga viral até 10 vezes mais alta do que a cepa original do coronavírus. A possibilidade de faltas de leitos de UTI para pacientes graves em hospitais públicos e particulares também foi apontada pelo médico como possível diante da situação atual do país. Ele lembrou que o colapso na saúde do Brasil se iniciou há cerca de duas semanas, de forma pontual, em cidades como Jaú, Araraquara e Manaus, passando para estados, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

“É como se você tivesse uma estrutura desabando aos pedaços, o sistema vai colapsando. Hoje eu estou na capital para fazer alguns projetos com hospitais e nós temos, por exemplo, 100% de ocupação no hospital de infectologia Emílio Ribas, já com fila de espera para internação de UTI”, afirmou, lembrando que o Hospital das Clínicas da USP, maior da América Latina, bateu marca de 80% de ocupação geral e grandes nomes da rede particular do estado, como o Sírio Libanês, também têm batido recorde de internações. “Não só o seu parente pode não encontrar vaga em enfermaria e UTI, ou por mais que você tenha um bom plano de saúde ou tenha recursos financeiros você não vai encontrar recursos de saúde porque simplesmente não existe vaga. É a isso que a gente dá o nome de colapso no sistema de saúde, tanto público quanto privado” afirmou. Diante de um cenário de colapso, o médico lembrou que as equipes de saúde que trabalham há mais de um ano já estão em situação de exaustão e que mesmo com a reabertura de hospitais de campanha e adição de novos leitos, o país pode não ter recursos humanos suficientes para atender à toda população.

Vacinas

A certeza de que os imunizantes aplicados no Brasil hoje funcionam diante das novas variantes registradas no país ainda não existe. “Existem indícios de que algumas variantes possam comprometer a efetividade ou eficácia plena de algumas das vacinas. A primeira evidência foi a variante do vírus sulafricano que faz com que a vacina de Oxford/Astrazeneca reduza a eficácia. O estudo é pequeno, então é algo para se ter um cuidado, ter um alerta, um estudo maior está sendo conduzido para verificar esta informação”, pontuou. Para ele, os estudos acendem uma “luz amarela” na importância de se olhar para essas variantes. “Por isso, além da vacinação em massa, que deveria ser feita mais rápido, são necessárias infelizmente medidas de restrição, porque a vacinação acontece devagar e talvez a vacina não tenha eficácia tão grande quanto em relação ao vírus original”, afirmou. Ele lembrou que o cenário internacional já se preocupa com a variante amazonense.

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