Cerca de 22% dos médicos que trabalharam no início da pandemia apresentaram sintomas de depressão

Pesquisa da Organização Pan-Americana de Saúde analisou a saúde mental de profissionais da saúde de 11 países da América Latina

  • 17/01/2022 08h20 - Atualizado em 21/04/2022 02h02
Banco de imagens/Freepik Síndrome de Burnout Entre os motivos que adoecem os médicos, estão a preocupação de infectar familiares e mudanças regulares no processo de trabalho

Uma pesquisa analisou a saúde mental de profissionais da saúde de 11 países da América Latina. O relatório aponta que entre 14% e  22% dos entrevistados em 2020, primeiro ano da pandemia do coronavírus, apresentaram sintomas consistentes de depressão e que 15% admitiram ter pensado em suicídio. Segundo o departamento de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da Organização Pan-Americana de Saúde, com o aumento da carga de trabalho e o colapso do sistema de saúde, os trabalhadores não suportaram e tiveram um grande impacto na saúde mental. Foram entrevistados 14.502 profissionais. À frente desses estudos estavam acadêmicos e pesquisadores de diversas instituições dos 11 países. Eles conseguiram identificar os principais motivos que adoecem esses profissionais. E entre esses fatores estão: preocupação com infecção dos próprios parentes, os conflitos com familiares dos pacientes que estão sob os seus cuidados e as mudanças regulares no processo de trabalho.

Outras condições foram mencionadas: condução das instituições de saúde e dos governos no combate à Covid-19, o apoio dos colegas e questões espirituais e religiosas. Quando os médicos ficavam frustrados com a situação, a saúde mental deles sofria e, então, surgia o estresse, a ansiedade e a depressão. Essas observações também são feitas por psiquiatras brasileiros, como explica o médico Primo Paganini. “Os profissionais da mais da área da saúde apresentam um aumento de depressão, ansiedade, medo, frustração, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo compulsivo, irritabilidade, insônia e abuso de substâncias, principalmente álcool e tabagismo”, aponta Paganini.

O especialista também faz um alerta sobre a rejeição por tratamentos, o que ele chama de psicofobia, o medo por buscar ajuda profissional. Paganini reforça a importância de o paciente receber o tratamento adequado. “No caso de um profissional da área de saúde que perceba que não está bem, ele deve perder a ‘psicofobia’, que é o medo de buscar ajuda com um psicólogo e com um psiquiatra. Então este profissional da área de saúde deve realizar a psicoterapia com o psicólogo, com o psicanalista e, em casos bem indicados, deve procurar o psiquiatra para utilização de medicamentos psicotrópicos, os chamados psicofármacos”, explica Paganini. O estudo feito pela OPAS ressalta que a pandemia ainda não acabou e que por isso é urgente desenvolver políticas e ações específicas que possam proteger a saúde mental dos profissionais da saúde: modificar um ambiente de trabalho, salários descentes, condições contratuais e espaços onde a equipe possa desabafar e se engajar com práticas de autocuidado.

*Com informações da repórter Iasmin Costa

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