Cobrança social por padrões estéticos pode gerar distúrbios psicológicos e alimentares

Popularização de um estilo de vida dito ‘saudável’ e o mundo perfeito das influenciadoras têm impactado a vida de jovens e adultos com a ideia falsa de que a felicidade está diretamente ligada a um estereótipo

  • Por Jovem Pan
  • 31/07/2021 10h02 - Atualizado em 31/07/2021 12h31
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StockSnap por Pixabay Uma mulher se olhando no espelho Pressão por padrões estéticos pode estar causando aumento dos níveis de ansiedade, sintomas depressivos e até transtornos alimentares

Mario Torres tem 11 anos e foi diagnosticado com obesidade e diabetes tipo 2. Desde então, tem sido acompanhado por uma equipe multidisciplinar de saúde, com psicólogo e psiquiatra, para tratar uma forte ansiedade que, segundo a mãe, Natália Torres, faz o menino comer em excesso, problema que se agravou ainda mais na pandemia. “Descobrimos que essa ansiedade foi gerada por uma questão de baixa autoestima. O Mario tem PAC, ele não faz o processamento auditivo do lado esquerdo, o que comprometeu a questão dele se colocar em relação à escola, de se expor, por causa da tentativa dele de entender o que acontece. Como válvula de escape, começaram os excessos alimentares”, relata.

Ainda segundo Natália Torres, o filho tem sofrido preconceito até mesmo no ambiente familiar. “‘Mario gordinho’, ‘O homem pedra’, dizem. Eu falo: ‘Pessoal, não fala assim. Chama só de Mario. Ele não gosta, não se sente confortável’. O Mario não é um menino que fala o que incomoda, então ele guarda para ele. E isso vira um ciclo vicioso, porque ele não fala, não se sente bem e, ao mesmo tempo, as pessoas continuam”, afirmou a mãe. Frases como “Você vai virar uma bola comendo desse jeito”, “Vá arrumar esse cabelo feio, tá todo bagunçado” e “Por que você não se arruma como sua prima?” já foram ouvidas por quase todo mundo. A gordofobia e a pressão estética estão presentes no cotidiano e afetam as pessoas desde a primeira infância.

A psicóloga Vanessa Tomassini explica que aquilo que para muitos não passa de uma “brincadeira” ou até mesmo uma estratégia de alerta para autocuidado, para as vítimas pode ser “devastador”. “Essa ideia dessa busca por esse corpo vai gerando nas pessoas, cada vez mais, uma insatisfação corporal e uma frustração muito grande a partir do momento em que ela não consegue atingir esses ‘resultados’ de ter o corpo de determinada forma. Isso aumenta os níveis de ansiedade, sintomas depressivos e pode, sim, gerar transtornos alimentares. A gente tem uma série de questões envolvidas de saúde mental muito sérias desde a primeira infância, e em adultos também”, diz Vanessa. Comerciais de cosméticos, procedimentos estéticos e filtros de rede social hoje em dia se tornaram muito comuns. Mas, segundo especialistas, tudo isso reforça ainda mais a ideia falsa de que só existe um tipo de beleza aceitável e aquilo que não segue esse padrão, deve ser rejeitado, até que se adeque ao que a sociedade entende como belo.

Ainda segundo a psicóloga Vanessa Tomassini, a popularização de um estilo de vida dito “saudável” e o mundo perfeito das influenciadoras têm impactado a vida de jovens e adultos com a ideia falsa de que a felicidade está diretamente ligada a um estereótipo quase inatingível. “O que a gente mais vê na prática clínica é de que, muitas vezes, o que o paciente está buscando, ele não vai vir por meio de uma cirurgia. A gente está falando de autoestima, que é o valor que eu dou a mim. A autoestima começa a ser hoje em dia, infelizmente, ligada ao corpo. E não é. É uma construção que nós fazemos desde muito cedo de que meu verdadeiro valor está na forma que eu sou verdadeiramente”, explica.

Na contramão da busca desenfreada por padrões de beleza, a fotógrafa Maria Ribeiro decidiu ajudar mulheres no processo de autoaceitação através de ensaios naturais e artísticos que não envolvem a manipulação das imagens. “O sistema cria um padrão para não caber ninguém. Nunca está bom. E sempre quando a gente ia fotografar, vinha aquele lugar de vergonha, de insegurança, de medo, de se expor. Eu não queria que esse lugar de ser fotógrafa fosse um lugar doloroso, de trauma. Eu sempre quis que fosse uma experiência transformador”, afirma. Roberta Lotti, de 39 anos, decidiu participar do projeto e fez um ensaio com a fotógrafa durante a pandemia. Segundo a comunicadora, a experiência foi muito importante e ajudou no fortalecimento da autoestima. “Muitas portas internas se abriram sobre a autoperpecpção, autoaceitação, autoamor, sexualidade, enfim, muitas reverberações a partir dessas imagens”, contou. O Brasil é o país que realiza o maior número de cirurgias plásticas no mundo, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética.

*Com informações da repórter Caterina Achutti

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