Comunidade científica lamenta corte de verbas no Orçamento 2021; entenda impactos

Ministério da Inovação, Tecnologia e Comunicação vai receber neste ano R$ 8,3 bilhões, valor cerca de 30% menor que em 2020

  • Por Jovem Pan
  • 02/05/2021 09h49 - Atualizado em 02/05/2021 09h52
SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO Exame em laboratório para identificação do coronavírus Para a Academia Brasileira de Ciência, o Brasil está indo na contramão de outros países

O corte das verbas destinadas para o Ministério da Inovação, Tecnologia e Comunicação (MCTIC) foi um golpe para a comunidade científica. O Orçamento 2021 aprovado no mês passado bloqueou R$ 272 milhões e vetou R$ 371 milhões que financiariam a ciência no país durante o ano. Ao sancionar o projeto, o presidente Jair Bolsonaro cortou o valor que seria investido no desenvolvimento da Versamune, vacina anunciada pelo MCTIC. No total, a pasta vai contar com R$ 8,3 bilhões, valor cerca de 30% menor que no ano passado. A esperança do ministro Marcos Pontes é destravar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, com cerca de R$ 5 bilhões para o exercício de 2021. Para a Academia Brasileira de Ciência, o Brasil está indo na contramão de outros países, que, mesmo na crise da pandemia, anunciaram bilhões de dólares e euros em ciência. O presidente da entidade, Luiz Davidovish, diz que isso afeta a soberania do país.

“Parece paradoxal, estamos em uma crise econômica e diz ‘crise econômica não pode gastar’, mas o governo está igualando gasto com com investimento. Se tivesse havido uma iniciativa já antes de produzir vacinas nacionais, nós estaríamos melhor. Porque se a gente fica só comprando vacinas do exterior, a capacidade de nossa reação frente a novas variantes é reduzida. Se as variantes não puderem ser cobertas com as vacinas atuais, novas vacinas tem que ser desenvolvidas. Vamos ficar esperando que desenvolvam, utilizem as vacinas e o que sobrar mande pra gente? Possibilita, até pela negação da evidência científica, novas pandemias. Por exemplo, o desmatamento da Amazônia pode produzir novas pandemias. Hoje em dia já se sabe que há centenas de vírus abrigados na Amazônia, e dezenas de vírus já foram descobertos, trabalho de cientistas brasileiros. A gente sabe que as pandemias são geradas por desmatamento, são animais da floresta que saem e transmitem vírus que podem atacar os seres humanos”, explica Luiz Davidovish.

Dias das depois da sanção do orçamento, o governo federal anunciou que vai vacinar toda a população de Botucatu, no interior de São Paulo, para verificar a eficácia da vacina da Oxford/AstraZeneca. A presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Ciência e Tecnologia, secretária Patrícia Ellen, disse que o país não precisa de anúncios, mas de recursos. “Estou acompanhando de perto o dilema dos secretários de outros Estados e é desesperador. Nunca precisamos tanto de ciência e tecnologia como precisamos agora. Não precisamos de anúncios, precisamos de recursos. Quanto ao estudo, é um estudo que está sendo feito no ecossistema do Estado de São Paulo, na Unesp, que comprova o valor de investir na ciência’, disse. O governo de São Paulo enviou uma proposta de orçamento que previa um corte de R$ 454 milhões destinados à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado, uma das principais entidades de fomento à pesquisa. Após críticas, a gestão de João Doria publicou um decreto que garantiu a verba integral para a instituição.

O diretor científico da Fapesp, Luiz Eugênio Mello, explica que os cortes federais também atrapalham o funcionamento da fundação. “A Fapesp é um dos agentes que atua no financiamento à pesquisa no Brasil e, nesse caso especificamente, no Estado de São Paulo. Como São Paulo tem uma importância grande no âmbito da execução da atividade de ciência e tecnologia no Brasil, quando o recurso federal é escasso, o recurso da Fapesp é mais demandado, a pressão aumenta. O CNPQ tive perspectiva de liberar uma aprovação maior de bolsas, mas os recursos não foram suficientes para isso. Com isso, a pressão na Fapesp acaba aumentando”, afirmou. Com o corte no orçamento federal, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, uma das principais agências por trás do financiamento da ciência no Brasil, vai pagar somente 13% dos projetos de doutorado e pós-doutorado aprovados para 2021.

*Com informações da repórter Nanny Cox

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