‘Decisão sobre Sputnik V teve conotação política’, afirma chefe de comitê científico do Nordeste

Sérgio Machado Rezende disse que objeções técnicas da Anvisa ‘não fazem muito sentido’ e que ‘argumentos são falhos’

  • Por Jovem Pan
  • 29/04/2021 10h06 - Atualizado em 29/04/2021 16h13
EFE/EPA/MINZDRAV Frascos da vacina russa contra a Covid-19, Sputnik V Ele citou a Argentina e a Hungria como exemplos de países com tradição científica que imunizam com a vacina russa

O ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Machado Rezende, que hoje é coordenador do comitê científico do Consórcio Nordeste, acredita que a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária de não recomendar a vacina russa Sputnik V, do Instituto Gamaleya, é política. De acordo com ele, os argumentos técnicos mencionados pelo órgão regulador são falhos. “A interpretação do nosso comitê científico é de que a decisão teve uma conotação política grande porque as objeções técnicas que a Anvisa levantou não fazem muito sentido. O Instituto Gamaleya tem um controle de qualidade rigorosíssimo e que faz análises em enorme quantidade de doses. A Agência fala em adenovírus replicante, mas a Rússia nunca encontrou o tal”, explicou.

Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, o ex-ministro destacou que a Anvisa não tem laboratórios e também não divulga quais foram os responsáveis pela análise. “O principal argumento é que ela oferece risco a saúde humana, enquanto o Gamaleya nega isso. A Sputnik V é usada em 63 países, alguns fizeram estudos detalhados de consequência, ela não causa coagulação. Os argumentos técnicos são falhos e isso é reconhecido por muitos especialistas brasileiros. Se não tem argumento técnico válido, a única explicação é que houve decisão política.” Ele citou a Argentina e a Hungria como exemplos de países com tradição científica que imunizam com a vacina.

Sérgio Machado Rezende lembrou que, quando a CoronaVac foi anunciada, o Instituto Butantan pediu autorização da Anvisa para aplicação e as primeiras reações foram negativas. “Foi preciso haver uma pressão popular para que se tomasse uma decisão e ela fosse aprovada. Segundo os diretores do Butantan, a Anvisa exigiu documentos que não exigiam para outras vacinas. Lógico que tinha uma questão política. O presidente da República disse que não queria vacina chinesa, o ministro das Relações Exteriores da época também. Havia uma questão política clara.” Ele destacou que a CoronaVac também não é aplicada nos Estados Unidos e na Europa, mas ainda assim se mostra muito eficiente nos países em que é usada — inclusive no Brasil.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.