‘Difícil equação entre desenvolvimento econômico e preservação sustentável’, diz Segré sobre Cúpula da Amazônia

Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, o analista internacional criticou o uso político que o presidente Lula (PT) deve fazer do evento diplomático

  • Por Jovem Pan
  • 08/08/2023 08h51 - Atualizado em 08/08/2023 09h25
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Reprodução/Jovem Pan News gustavo-segré-analista-internacional-reproducao-jovem-pan-news Em entrevista ao Jornal da Manhã, Gustavo Segré comentou o que esperar da Cúpula da Amazônia

A Cúpula da Amazônia, que acontece nesta terça e na quarta-feira, 8 e 9, em Belém, no Pará, deve marcar mais um episódio do esforço do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por um protagonismo mundial nos debates sobre a preservação da floresta e povos indígenas. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o evento marca a quarta reunião dos presidentes dos Estados Partes no Tratado de Cooperação Amazônica, com a participação dos oito países signatários (Brasil, Bolívia, Colômbia, Guiana, Equador, Peru, Suriname e Venezuela). Também participam enviados dos governos da Alemanha e da Noruega, principais países que contribuem para o Fundo da Amazônia, e da França, em razão da Guiana Francesa. Para falar sobre a cúpula, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o jornalista e analista internacional Gustavo Segré, que criticou o uso político do evento.

“É um evento bem realizado, em termos dos objetivos. É uma difícil equação entre o desenvolvimento econômico e social e a preservação sustentável de um lugar tão querido de toda a América Latina e do mundo. Quando a gente observa questões que têm um viés político, a coisa começa a ter suspeitas. Por exemplo, foi pouco divulgado que, desde o dia 4 de agosto, tem um outro evento prévio, que chama Diálogos Amazônicos, realizado por ONGs em que participaram, no primeiro dia, parte da 1ª Cúpula Judicial Ambiental da Amazônia, dois membros do Supremo Tribunal Federal. Estamos falando da ministra Rosa Weber e de Luís Barroso. São eventos que você se pergunta o que tem a ver com a preservação social, econômica e ambiental. E a resposta é dúvida, porque não tem muito relacionamento uma questão com a outra”, analisou.

Segré também comentou as movimentações do governo em torno do Fundo Amazônia. Para o analista, é importante que a comunidade internacional veja este instrumento como uma política de Estado e que o governo estipule metas realísticas: “A questão é a diferença entre a teoria e a prática. Na teoria, temos muito dinheiro que foi sendo recolhido e prometido pelas viagens do presidente Lula no Reino Unido, Alemanha, França e Noruega, os países que mais colaboram para o desenvolvimento amazônico. A dúvida destes países nos aportes é qual será a política do Estado brasileiro, e não apenas do governo. Lembrando que o relacionamento deles com o governo Bolsonaro não foi dos melhores. Essa incorporação do presidente Lula chamou uma expectativa diferenciada para estes países que, inclusive ideologicamente, estão mais confortáveis com ter um intermediador como o presidente Lula.”

“Mas a dúvida é de como será daqui para frente, aí me parece isso faz parte de um acordo entre a governo e a oposição atual, que poderão inverter papéis no dia de amanhã, mas que não mudem as regras do jogo. Essa é a preocupação. Agora, tem um objetivo muito ambicioso, o presidente Lula mencionou que o objetivo é desmatamento zero até 2030. Estamos falando daqui a 7 anos, lembrando que o PT esteve 14 anos no poder e não conseguiu um objetivo sequer parecido com esse. Estamos observando, na minha humilde opinião, um monte de narrativas que buscam mostrar um objetivo que duvidosamente será alcançado na realidade”, argumentou.

Ao final da cúpula, as oito nações que compõem a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) devem assinar um documento de cooperação com metas ambientais. Além disso, Lula deve homologar duas terras indígenas durante o evento. Para o analista, a cúpula não é o espaço adequado para este tipo de anúncio: “A colocação política mostra que pode ser ruim, não tão bom quanto a questão da história e tradições. A realidade é que é promessa de campanha, devemos lembrar disso também. Quando a gente percebe que esses eventos de entrega e assinatura de títulos são feitos em momentos que os holofotes estão colocados nesse lugar e nessa situação, chama um pouco à atenção. Está certo, politicamente é válido. O presidente Lula sabe muito bem aproveitar esses holofotes e está fazendo a sua tarefa (…) Essa resposta de promessa de campanha está tendo uma utilização um pouco mais política do que deveria”. Confira a entrevista na íntegra no vídeo abaixo.

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