‘É um número bom e o setor não esperava tanto’, diz Roberto Rodrigues sobre Plano Safra
Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, Roberto Rodrigues analisou a medida do governo e qual o atual estado do agronegócio brasileiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, lançaram nesta terça-feira, 27, o Plano Safra 2023/2024. Serão disponibilizados R$ 364,22 bilhões para médios e grandes produtores rurais. O valor divulgado representa um aumento de 27% em relação ao programa anterior, que liberou R$ 287,16 bilhões. O novo Plano Safra tem foco no fortalecimento dos sistemas de produção ambientalmente sustentáveis, com redução das taxas de juros para recuperação de pastagens e premiação para os produtores rurais que adotam práticas agropecuárias consideradas mais sustentáveis. Para comentar a medida, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou, nesta quarta-feira, 28, o professor emérito e Coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues, que comemorou o volume de recursos do novo Plano Safra: “Nunca, em tempo algum, o governo conseguirá dar ao setor tudo o que ele demanda em termos de crédito, oferecer o que ele demanda. Cresce muito, então a demanda cresce cada vez mais. Porém, é preciso reconhecer que dessa vez o governo fez um esforço”.
“Eu quero até cumprimentar muito o ministro Fávaro pelo esforço grande para colocar recursos que acabaram saindo acima do que nós imaginávamos. Foram R$ 364 bilhões para a agricultura empresarial. Mais os R$ 70 bi ou R$ 80 bi de hoje. Vão ser quase R$ 440 bilhões, é quase 30% mais do que o ano passado. É um número muito bom, acima da inflação. É um número bom e setor não esperava tanto. Demandava mais, mas não esperava tanto. Então, o número é bom. Agora, o que complica são os juros. Não obstante, também aqui tem havido uma boa situação. Os juros não ficaram maiores do que os ano passado. Em alguns casos, até menores, sobretudo nos programas específicos que o governo fez em direção à sustentabilidade da produção. Um programa importantíssimo, que é o da recuperação de pastagem degradada e que vai abrir terras que já existem abertas há muito tempo para a agricultura. Vai ter um juros de 7% a 8%. É muito bom, comparado com os demais juros que vão até 12%”, exaltou.
No entanto, Rodrigues também apontou para a “falta de clareza quanto ao seguro rural” e alertou que fenômenos climáticos como o El Niño e a taxa de câmbio podem ser entraves na safra deste ano, por isso mais recursos para o seguro seriam fundamentais: “O seguro rural é fundamental porque, além dos preços caírem e os custos caírem menos que os preços, nós temos duas outras questões. Uma é o El Niño, que está anunciado, e que é um fenômeno climático e hidrológico que pode reduzir a produtividade agrícola em vários estados do país. Se você vai ter preços baixos e produção baixa, é o pior cenário possível de condição econômica para a agricultura. Além disso, também a questão cambial está afetando (…) Então, o recurso para o seguro rural e para a comercialização, são essenciais. Isso não está claro ainda no plano de safra”.
“Nós estamos com os preços caindo muito na agricultura, porque a oferta mundial cresceu, então os preços caíram. Tinham subido demais por causa da pandemia, e agora caíram nos últimos meses, 40% até 50% em alguns casos. Os custos também caíram. E haviam subido com a pandemia e com a guerra na Ucrânia, mas caíram menos do que os preços caíram. Como consequência, nós estamos olhando para uma safra muito grande no ano que vem, que pode se somar à safra grande do Hemisfério Norte, nos Estados Unidos, Canadá e União Europeia. Se isso acontecer, a oferta mundial será muito grande, sobretudo de grãos, e os preços podem cair mais ainda. De modo que é preciso que haja recurso para a comercialização da safra, para que o produtor fique garantido na sua condição de arbítrio, a melhor hora para vender. Então tem que ter mais recurso para a comercialização”, explicou.
No primeiro trimestre de 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,9% em relação ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. Comparado ao mesmo trimestre de 2022, o PIB cresceu 4,0%. Resultado foi puxado pelo crescimento de 21,6% da Agropecuária, maior alta para o setor desde o quarto trimestre de 1996, juntamente com a safra recorde de soja. O professor da FGV também explicou como se deu esta importância do agronegócio no PIB brasileiro: “O mais importante realmente é a tecnologia. O que o Brasil evoluiu em termos tecnológicos na agricultura é uma coisa que nenhum outro país do mundo fez. Vou dar um número só para você ter clareza desse processo. Nos últimos 30 anos, a área plantada com grãos no Brasil dobrou. Cresceu 103%. E a produção de grãos cresceu 445%. Ou seja, a produção cresceu 4,5 vezes mais do que a área plantada. O que é isso? Mais produtividade por hectare plantado. O que é isso? Tecnologia. Então esse é o ponto principal”.
“A tecnologia evoluiu, é uma tecnologia tropical e sustentável. Outro número para mostrar como é sustentável a agricultura brasileira. Nós cultivamos no Brasil, hoje, 77 milhões de hectares com grãos. Na verdade, são 50 milhões. Mas o Brasil tem uma característica que nenhum outro país do mundo tem, nós fazemos na mesma área duas safras por ano e até três safras quando há irrigação. Então a soma das três áreas no mesmo ano chega a 77 milhões de hectares. Se nós tivéssemos, hoje, a produtividade que tínhamos há 30 anos atrás, precisaríamos de mais 129 milhões de hectares para produzir a safra desse ano. Ou seja, nós preservamos 120 milhões de hectares em qualquer desmatamento, qualquer agressão ambiental, em qualquer bioma. Isso é sustentabilidade na veia. Não é promessa, não é um sonho, não é uma ambição, foi feito. E eu digo a você, nenhum outro país do mundo fez uma coisa tão vigorosa em tão pouco tempo”, argumentou. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.