Especial Lava Jato: Sergio Moro, o homem que virou símbolo de combate à corrupção

Ao sair da força tarefa, ex-juiz assumiu como ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro

  • Por Jovem Pan
  • 06/04/2021 09h23
Gabriela Biló/Estadão Conteúdo Sergio Moro em coletiva de imprensa No entanto, Moro deixou o governo pela porta dos fundos um ano e quatro meses depois de assumir o Ministério

Além da Lava Jato mirar figuras do Congresso Nacional, o Legislativo também virou centro de debates sobre medidas de combate à corrupção. As ações propostas pela força tarefa em Curitiba, com apoio de Sergio Moro, foram discutidas com a sociedade. Nas redes sociais, o procurador Deltan Dallagnol pressionava os parlamentares. As medidas previam tornar crime o enriquecimento ilícito, aumentar as penas para corrupção e caixa dois e ampliar a recuperação do dinheiro. Com mais de dois milhões de assinaturas, o pacote se transformou em um projeto de lei. Começava uma guerra no Congresso.

O então deputado Onyx Lorenzoni virou relator das 10 medidas e chegou a ser vaiado em plenário. As ações foram desfiguradas e os contrários a Lava Jato propuseram ações como a lei de abuso de autoridade para punir magistrados. Na tribuna, o senador Lasier Martins lamentava. “Houve uma decepção muito grande e me parece que uma desilusão definitiva do eleitorado brasileiro que já não confiava, não concedia muito crédito aos políticos.” A Associação Nacional dos Procuradores da República reagiu aos ataques a Lava Jato. O magistrado pelo Amazonas Edmilson Barreiros Júnior considerava descabida a lei de abuso de autoridade.

Os advogados envolvidos na Lava Jato nunca perderam a chance de denunciar irregularidades na operação. E Sergio Moro no olho do furacão. O então juiz foi ao Congresso pedir ajuda para aprovar as 10 medidas, mas o Congresso não foi sensível enquanto que as ações contra os poderosos continuavam em andamento. O promotor de Justiça César Dario Mariano avalia que, mesmo com os insucessos, a Lava Jato trouxe avanços. “Destacam-se, por exemplo, a colaboração jurídica internacional, delações premiadas, emprego de forças tarefas, quebras de sigilo bancário, indisponibilidade de bens — que conseguiram, de uma maneira conjunta, acabar ou pelo menos reduzir a corrupção sistêmica existente no Brasil.”

O debate sobre o combate a corrupção chegou na campanha eleitoral de 2018. E o vencedor nas urnas, Jair Bolsonaro, anunciava que a Lava Jato não seria esquecida. O presidente transformou Sergio Moro, agora ex-juiz, em super ministro da Justiça e Segurança Pública. No entanto, Moro deixou o governo pela porta dos fundos um ano e quatro meses depois de assumir o Ministério. A decisão de Jair Bolsonaro de trocar o diretor geral da Policia Federal, Mauricio Valeixo, pegou o ex-juiz de surpresa.

“O grande problema é que não é tanto essa questão de quem colocar, mas porque trocar. E permitir que seja feita a interferência politica no âmbito da Polícia Federal“, disse o então ex-ministro durante a demissão. Sergio Moro continuou discutindo, no Congresso, o pacote anticrime proposto por ele nos tempos de pasta. Trabalhando na iniciativa privada, Sergio Moro não saiu das manchetes dos jornais. o Supremo Tribunal Federal poderia julgar a qualquer momento a suspeição dele em processos contra o ex-presidente Lula. E foi justamente o que fez o STF.

*Com informações de Thiago Uberreich e Adriana Reid

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