‘Vivemos um período de reação contra tudo de bom que a Lava Jato fez’, declara Deltan Dallagnol
O ex-coordenador da Lava Jato em Curitiba e procurador da República participou do programa Direto ao Ponto desta segunda-feira, 05, e deu opiniões sobre os rumos da Operação
O procurador da República e ex-coordenador da Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, participou do programa Direto Ao Ponto desta segunda-feira, 05, e comentou sobre a atual situação da Força Tarefa que prendeu políticos e empresários importantes. Segundo ele, a Operação não acabou e ainda tem ‘muita coisa por fazer’. “Os crimes não acabaram, as investigações também não acabaram, mas é claro que vivemos um período de reação contra tudo de bom que a Lava Jato fez. Quando olhamos para as duas últimas decisões do STF, eu discordo. Primeiro eu discordo da decisão de incompetência que disse que a Vara de Curitiba era incompetente para resolver o caso, porque a própria Segunda Turma disse que a Vara é competente para assuntos relativos à Petrobrás. E as acusações contra o ex-presidente Lula também envolveram condenaram por desvios na Petrobrás. E também discordo sobre a suspeição porque essa decisão bate de frente com os números e é desmentida pelos dados. A Lava Jato foi dura e aplicou a lei de forma dura, mas não pode dizer que houve um tratamento diferente com o ex-presidente. Foi aplicado a ele o mesmo tratamento”, disse o procurador.
Questionado sobre seus posicionamentos públicos sobre as decisões do Supremo, Deltan afirmou que não faz muito alarde para não dar material para as defesas, mas se defendeu das acusações de criminalização de seu trabalho. “Eu ouço dizerem ‘querem colocar vocês na cadeia’, ok, mas falta um fato. Não existe crime. Se instaurou aquele inquérito do STJ para investigar os procuradores da Lava Jato, mas é um inquérito instaurado sobre mensagens que não reconhecemos. E mesmo se elas fossem autênticas não é definido na nossa legislação como crime você investigar alguém que tem foro privilegiado. Nós vemos um esforço enorme para tentar virar o jogo, vejo hoje uma série de equívocos e um esforço para criminalizar os investigadores. Tem muitas pessoas interessadas em procurar pelo em ovo para anular condenações e ganhar um salvo conduto”, declarou.
O procurador também comentou sobre a decisão do ex-juiz federal Sergio Moro de sair da Operação Lava Jato e integrar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) no ministério da Justiça e Segurança Pública. “Foi estritamente pessoal. Ele nunca consultou nenhum de nós sobre isso, nunca pediu nossa opinião, mas eu entendo a decisão porque ele viu o caso das Operações Mãos Limpas, foi um caso que avançou significativamente na Itália, mas houve uma grande reação política que tornou os investigadores como investigados e o que nós não gostaríamos é que se repetisse essa história e eu entendo essa ideia dele de deixar o cargo de juiz federal, que é limitado, e ido para o cargo de ministro da justiça para tentar influenciar, mudar o conteúdo das futuras leis, para tentar impedir os retrocessos e fazer com que as investigações andassem”, contou.
A Lava Jato ajudou a eleger Jair Bolsonaro?
Durante a entrevista Deltan Dallagnol negou diversas vezes ter algum alinhamento político e fugiu de perguntas do tipo, mas comentou as mensagens vazadas na Operação Spoofing sobre a Lava Jato ter beneficiado o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, nas eleições de 2018. “Os procuradores da Lava Jato não reconhecem essas mensagens que tem sido a nós atribuídas”, ressaltou. “Mas eu discordo que a Lava Jato tenha ajudado a eleger o Bolsonaro, porque ela jamais defendeu um partido ou um candidato, ela defendeu uma bandeira e uma causa. Fomos explícitos em dizer que não apoiávamos nenhum candidato, mas vários abraçaram essa pauta [anticorrupção]”, completou.
Perguntado se via no governo Bolsonaro uma ameaça à democracia, Deltan foi enfático em mostrar sua preocupação. “Nós [procuradores] nos preocupamos com a democracia brasileira de acordo com alguns arroubos autoritários e alguns discursos que deslegitimam antecipadamente resultados de eleições ou que questionam o funcionamento de urnas sem evidências empíricas. Temos uma preocupação com a excessiva militarização e fica a questão pairando no ar sobre o porquê tanta militarização na administração pública. Existem preocupações que se colocam contra a democracia, existe uma polarização muito acirrada, desrespeito à imprensa e ao debate público, mas eu confio na força da nossa democracia”, finalizou.
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