Especialista defende modelo de clube-empresa como necessário para futebol brasileiro

Projeto de Lei assinado no primeiro semestre de 2021 autorizou criação de sociedades anônimas de futebol e é analisado por alguns times do país

  • Por Jovem Pan
  • 01/01/2022 09h15
Reprodução/ Twitter @Cruzeiro cruzeiro Cruzeiro aderiu ao modelo clube-empresa após compra por parte de Ronaldo Fenômeno

O ex-jogador Ronaldo Fenômeno comprou o Cruzeiro de Minas Gerais, time que disputará o seu terceiro ano na Série B do Brasileirão em 2022, por R$ 400 milhões. “Dia histórico para mim, para o futebol brasileiro, para o Cruzeiro. Eu que tenho uma história com o Cruzeiro incrível volto para casa com um desafio enorme pela frente. O Cruzeiro tem uma dívida muito grande, nós temos desafios gigantescos e o futebol brasileiro precisa dessa mudança radical para voltar a crescer, voltar a ser competitivo”, afirmou o ex-jogador. A profissionalização do futebol e a transformação das agremiações em empresas é discutida há muito tempo. O impulso para a mudança veio no primeiro semestre de 2021, com a aprovação por parte do Congresso Nacional do Projeto de Lei que autoriza a criação das sociedades anônimas de futebol. “Não deve ser recebido com euforia, mas com muita esperança. Acho que a palavra é esperança. A gente tem um modelo de organização desde que os primeiros clubes brasileiros foram fundados, no início do século 20, então é um modelo aí de 120 anos, que foi muito bem sucedido, fez do Brasil um país pentacampeão do mundo, que revelou grandes nomes da história do futebol, mas que já de algum tempo estava se mostrando obsoleto, ultrapassado, esse modelo associativo de clubes organizados na forma de associação, onde os dirigentes eram escolhidos por processos políticos, o que é muito limitador na capacidade de manter receitas novas”, explica o especialista em direito esportivo, José Mansur.

Ele lembra que na Europa e nas ligas mais importantes do mundo, o modelo é o mais bem sucedido. “Dos 30 clubes com maiores receitas do mundo, 27 estão constituídos como empresas. Fora eles, nós temos três: o Barcelona, que virou uma derrocada monumental que choca o mundo; o Real Madrid, que ainda é um clube-associação bem sucedido dentro de 27 que já não são mais, mas que sempre teve muito apoio do governo espanhol, e o terceiro é um clube brasileiro, nosso Flamengo, que tem 40 milhões de torcedores e faz um trabalho nos últimos anos muito destacado e hegemônico como clube-associação, mas que por ter 40 milhões de torcedores já é um gigante mundial, mas poderia ser ainda mais”, afirmou. Faz tempo que a camisa pesada não garante mais a sobrevivência dos times na elite nacional. A maioria deles tem dívidas milionárias por gestões sem realidade fiscal, longe da eficiência privada, parecendo estatais com um grande questionamento do uso do dinheiro dos clubes.

“Antigamente era assim, mas hoje você já vê inquéritos do Ministério Público sobre as gestões do Cruzeiro. Eu tenho conhecimento de inquéritos sobre gestões do Inter de Porto Alegre, e no nosso São Paulo existem ex-dirigentes, dirigentes nacionais, respondendo a ações criminais por atos praticados na gestão do São Paulo Futebol Clube. Eles têm todo o direito de defesa, ninguém deve ser condenado antes da decisão judicial nesse sentido, mas há dirigentes e ex-dirigentes respondendo em processo-crime, ou seja, aquele estigma de que a corrupção no futebol nunca era punida está se quebrando. Acho que é um movimento que outros estados vão começar a fazer e isso serve de alerta para que esse modelo associativo não havia controle, regra, mecanismos, como existe na SA”, afirmou. Os clubes que dominam o futebol brasileiro hoje, Atlético Mineiro, Flamengo e Palmeiras, ainda não são empresas. Mansur cita times como América Mineiro, Botafogo, Athletico e Coritiba como exemplos de alguns dos que estudam a mudança.

*Com informações do repórter Marcelo Mattos

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