Especialistas dizem que saída para Petrobras seria mudança na política de preços
Diante da renúncia de José Mauro Coelho, analistas consultados pela Jovem Pan avaliam que a troca se trata de uma cortina de fumaça e que a solução é uma mudança na política de preços da estatal
A Comissão de Valores Imobiliários (CVI) abriu dois processos ligados à renúncia de José Mauro Coelho da presidência da Petrobras, entretanto, a Jovem Pan apurou que, internamente, a saída de José Mauro Coelho foi apenas um atalho para que Caio Paes de Andrade, secretário de desburocratização do ministério da Economia, assuma de vez o comando da estatal brasileira de petróleo. A expectativa é que Paes de Andrade seja nomeado conselheiro-interino em breve e posteriormente será indicado como CEO da companhia. O nome dele foi sondado já no mês passado pelo governo, mas ele ainda estava passando pelos comitês de integridade, conformidade e elegibilidade da companhia. Diante da renúncia de Mauro Coelho, o secretário pode ter a sua entrada acelerada. Especialistas ouvidos pela Jovem Pan afirmam que a solução para a estatal não está na troca de comando, e sim na alteração da política de paridade de preços.
O ex-presidente da Empresa de Política Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, avalia que a mudança se trata de uma cortina de fumaça. “Uma solução para esta situação seria uma mudança da política de preços. Contudo, isso, sem dúvida, seria muito mal recebido pelo mercado. O governo tenta passar para a população a ideia de que os altos preços nos combustíveis são resultados da ação de uma empresa inescrupulosa que só busca o lucro, quando na realidade apenas o governo poderia alterar esta política”, critica o engenheiro.
O diretor do Centro Brasileiro de Estrutura, Pedro Rodrigues, também acredita que a alteração não vai solucionar o problema. “Trocar o presidente da Petrobras não é o caminho, o presidente apenas segue a política de preços que a empresa tem, então se o presidente for o José Mauro, ou o próximo presidente, ou o presidente do passado, a política permanece a mesma. O Brasil é um país que importa derivados de petróleo, então a gente precisa ter essa paridade com o mercado internacional. Então, acho que essa troca de presidente é mais uma tentativa de dar uma resposta política de que alguma coisa está sendo feita na companhia para tentar responder a sociedade a esse aumento de preço que temos no decorrer deste ano”.
Aurélio Valporto, presidente da Associação dos Investidores Minoritários do Brasil (ABRADIN), defende uma mudança radical na política de paridade de preços, com a taxação das exportações e importação de mais combustíveis para atender o mercado interno e diminuir o risco de desabastecimento no segundo semestre. “É preciso compreender que aqueles que estão na direção da Petrobrás possuem um dever de fidúcia legalmente definido para com os acionistas, e para com a empresa. Então, eles naturalmente buscam o maior lucro possível. E fazem isso alinhando a sua política de preços com aquela praticada por um cartel internacional, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Cabe à União, como agente regulador, com a força que a Constituição dá e com as leis, inclusive a lei que criou a ANP, regular os preços praticados pela Petrobras”.
O líder dos caminhoneiros, Wallace Landim, conhecido como “Chorão”, defende uma mobilização da classe contra a Petrobras e contra o governo Bolsonaro após sucessivos aumentos baseados na política de paridade de preços. “O país vai parar naturalmente porque não tem condições de rodar. Estou em São Paulo e 300 litros de diesel é R$ 2.610. R$ 8,70 o litro do combustível. Categoria, vamos acordar! Precisamos sim nos unir em todos os estados”, declarou o caminhoneiro em vídeo publicado nas redes sociais. Após a renúncia de José Mauro Coelho, a Petrobras escolheu o diretor de exploração e produção, Fernando Borges, como presidente-interino.
*Com informações do repórter Rodrigo Viga
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