Segundo estudo, 25% das crianças e adolescentes apresentam sinais de ansiedade e depressão na pandemia
Chamada ‘síndrome da gaiola’ pode ser notada em menores de 18 anos por causa das restrições impostas pela crise da Covid-19; pesquisa da USP mapeou 7 mil pessoas
Dados de uma pesquisa sobre a saúde mental da população brasileira feita pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) foram divulgados durante sessão da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados nesta semana e mostraram que uma em cada quatro crianças e adolescentes apresentou sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia. A pesquisa monitorou a saúde mental de 7 mil crianças e adolescentes de todo o país desde junho do ano passado. O deputado Dr. Zacharias Calil (DEM) solicitou o debate para discutir a chamada “síndrome da gaiola”, que é o medo de ir à escola e sair de casa agravado pela pandemia. “Eu achei por bem convocar essa reunião, essa audiência, porque eu sou médico, cirurgião, atuo na área de cirurgia pediátrica e tenho convívio com muitas crianças. Recentemente, em abril, eu vi um artigo do jornal Estadão e me chamou muita atenção esse tema”, explicou.
O nome da síndrome é uma analogia ao comportamento de aves que crescem em cativeiro e, quando a gaiola é aberta e elas têm a oportunidade de voar, continuam lá dentro. Para lidar com o problema, o coordenador da pesquisa, psiquiatra Guilherme Polanczyk defendeu a articulação entre escola, pais e serviços de saúde. “Os transtornos mentais são impactantes na infância, na adolescência, não só porque eles causam prejuízo nesse momento de desenvolvimento, mas porque entre adultos com transtornos mentais a estimativa é de que em torno de 50% deles tiveram o início do transtorno até os 18 anos de idade. Nós estamos falando não só de crianças afetadas, mas do futuro da nossa nação”, afirmou. Segundo Polanczyk, uma em cada seis crianças e adolescentes no mundo são afetadas por algum transtorno mental. No Brasil, dos 69 milhões de pessoas com 0 a 19 anos, há registro de 10,3 milhões de casos de transtornos. O psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, Wilmer Bottura disse que a mídia e as autoridades apresentam informações confusas sobre a pandemia, gerando mais medo na população.
“Os pais confusos, inseguros, levando as crianças a terem mais medo ainda, porque se os pais estão inseguros eles passam essa insegurança para as crianças. A reação dos pais”, explicou. Especialista em Psiquiatria Infanto-Juvenil, Gabriela Judith Crenzel defendeu que é preciso encarar que o principal motivo dessa angústia é real e que as crianças precisam ser acolhidas. “Nós, Brasil, até o momento, somente vacinamos o equivalente a 11,4% da população com as duas doses e a 27,5% da população com a primeira dose, então ainda estamos muito longe de pensar que há uma irracionalidade neste medo”, afirmou. Ainda segundo Crenzel, para evitar o aumento da evasão escolar, será preciso ir atrás das crianças e adolescentes, especialmente de escolas públicas.
*Com informações da repórter Caterina Achutti
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