‘Exigir prescrição médica para crianças é elitizar acesso à vacinação’, afirma Renato Kfouri

Para o infectologista e pediatra, a recomendação do PNI já é uma indicação válida para imunizar o grupo em questão; governo federal defende avaliação

  • Por Jovem Pan
  • 27/12/2021 09h17
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Johnny Drum/Jovem Pan Johnny Drum/Jovem Pan Renato Kfouri, pediatra e infectologista, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações

A secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, afirmou em nota técnica encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a vacinação de crianças contra o novo coronavírus, com dose pediátrica, é segura. Em entrevista ao vivo ao Jornal da Manhã nesta segunda-feira, o infectologista e pediatra Renato Kfouri, integrante da Sociedade Brasileira de Imunizações, comentou o tema. Para ele, exigir prescrição médica para a vacinação é ‘elitizar o acesso à vacinação’. A avaliação é feita em um momento de discussão sobre a imunização de crianças, com o governo federal defendendo a indicação médica. “Os que tem condições melhores na nossa sociedade, tem acesso a pediatra, médico, rapidamente. Exigiu uma consulta médica antes de ser vacinado é um processo protelatório que aumenta a desigualdade social que já existe no nosso país. A própria recomendação do Programa Nacional de Imunizações já é uma prescrição, sempre foi assim no nosso programa. Nunca precisamos de nenhuma receita”, afirmou Kfouri.

“Ninguém vai tomar vacina de sarampo, febre amarela, gripe, pneumonia e precisa levar receita para ser vacinado. A universalidade do SUS, que pressupõe o funcionamento do SUS, define como igualdade para todos. Não é possível a gente ter uma nesse exigir uma recomendação. O que você vai precisar, eventualmente, é, se alguma criança tem alguma contraindicação, uma alergia grave, é um atestado dispensando, aí é o contrário. Não é toda criança precisar levar um atestado ou uma receita. Aqueles que não podem, eventualmente, ou que o médico julgar necessário que não aquela criança não se vacine naquele momento, ele faz uma recomendação, uma prescrição adiando. Mas são situações excepcionais. A vacina é indicada, praticamente não há nenhuma contraindicação de vacinar com as vacinas Covid”, completou o médico.

O pediatra destacou que as crianças que receberam vacinas contra a Covid-19 em todo o mundo vem apresentando menos reações adversas que os adolescentes e adultos: “Mais de dez milhões de doses aplicadas em todo o mundo tem mostrado um perfil de segurança ainda mais favorável, menos reações do que a gente viu, por exemplo, em adolescentes de 12 a 17 anos. Risco de febre menor, risco de inflamação cardíaca menor. Uma vacina extremamente segura. Mais de uma dúzia de países europeus, Canadá, Estados Unidos tem confirmado essa segurança. Então, a balança tende muito mais para o lado do benefício. Muitas hospitalizações evitadas, muitas mortes, muitas complicações, Covid longa, síndrome inflamatória. Motivos não nos faltam para vacinar nossas crianças”.

Ainda na entrevista, Kfouri afirmou que as crianças têm sido foco de um aumento absoluto e percentual nos casos de Covid-19 no Brasil. Segundo ele, além da proteção da criança em si, a vacinação do grupo de pessoas de 5 a 11 anos de idade também deverá contribuir para que próximas ondas da infecção pelo coronavírus sejam cada vez mais fracas. “A medida que nós vamos avançando na vacinação de adultos, de adolescentes, os não vacinados passam a responder por uma porcentagem maior dos casos graves. Fica grave, hoje, praticamente, vai ser internado e vem a óbito, aqueles que não têm vacina: os adultos que não completaram seu esquema vacinal ou que perderam a proteção porque não ainda não receberam a dose de reforço e as crianças que não foram alvo ainda dos programas de vacinação. No começo da epidemia, as crianças representavam 1% dos casos nos Estados Unidos. Hoje, já são 25%, na Itália um terço dos casos são relacionados às crianças. Uma nova onda da doença, pela Ômicron ou por qualquer outra variante que surja, ela vai buscar os não vacinados, as principais vítimas. Quanto mais pessoas vacinadas eu tiver na população, menor a magnitude de uma nova onda”

“É muita dúvida e muita fake news circulando, dizendo que vacinas são experimentais, que vacina vai mexer no seu DNA, que vai deixar você com problema o resto da vida, vai virar um jacaré, vai por um chip, sei lá mais o que estão dizendo, que deixa muitos pais inseguros. A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, inclusive em um documento publicado hoje, é enfática, uma recomendação das vacinação das crianças de 5 a 11 anos com todas as vacinas que forem aprovadas pela Anvisa”, alertou aos pais de crianças. O médico ainda destacou que quanto menor a idade do paciente mais forte é a resposta imune ao receber a vacina. “Utilizando [em crianças] um terço da dose que se utiliza [nas pessoas] acima de 12 anos de idade, a resposta foi semelhante. Foi até um pouco melhor. Isso possibilitou usar vacinas menos concentradas, o que tem duas grandes vantagens. Primeiro é o rendimento. Com uma dose faz três. E o segundo é que, obviamente, o risco de efeitos colaterais fica menor ainda. Daí a necessidade urgente do Ministério [da Saúde], ao invés de protelar com consulta pública, protelar com colocando em dúvida a vacinação e a segurança para a população, estar preocupado em adquirir essas doses o mais rapidamente possível. É hora de celeridade e não de postergação. É hora de oferecer o direito às crianças brasileiras de ficarem protegidas”, finalizou.

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