Exposição gratuita em São Paulo revela novas facetas de Clarice Lispector

Mostra está em cartaz até 27 de fevereiro e segue o conceito da constelação, sendo dividida em 11 núcleos

  • Por Jovem Pan
  • 31/10/2021 11h26
Instituto Moreira Salles / Maria Clara Villas Montagem da exposição de Clarice Lispector no IMS Intimidade da escritora aparece nos retratos, anotações, cartas, discos, primeiras edições de livros e documentos

Os dizeres de uma das maiores autoras do país ganharam as paredes do Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo. A exposição “Constelação Clarice“, em cartaz até 27 de fevereiro do ano que vem e com entrada gratuita, entrelaça a poética de Clarice Lispector com obras de artistas visuais que atuaram na mesma época, como Maria Martins e Lygia Clark. O co-curador Eucanaã Ferraz explica que não se trata de uma biografia, mas de uma mostra sobre os temas abordados por Clarice. “A gente abriu mão disso para fazer uma coisa que não é biográfico, uma coisa por dentro da obra. A palavra é uma coisa inevitavelmente mental, enquanto a pintura era para ela uma maneira de exprimir uma coisa sem a linguagem”, relata.

O professor Acácio Almeida visitou a exposição ao lado da filha, Asantewaa. “É uma oportunidade de um encontro nosso, de encontro com a arte, com a poesia, encontro com a vida de uma mulher maravilhosa, que é a Clarice. As pessoas conhecem a Clarice pelos textos, pela grandiosidade dos textos. Aqui temos a oportunidade de ver outras dimensões dela”, disse. Mesmo antes de estudar textos da escritora na escola, Asantewaa já conhecia a autora. “Fiquei muito ansiosa para vir e estou gostando bastante. Como meu pai trouxe, estou vendo outros lados e outras formas de lado que também compõe a Clarice.”

A exposição, que toma conta de dois andares do IMS, segue o conceito da constelação e está dividida em 11 núcleos. O “Eu não cabia” questiona o cenário doméstico, enquanto a parte “A vida é sobrenatural” aborda o místico, já que o trabalho de Clarice Lispector traz referências a astrologia, cartomancia e à cultura judaica e cristã. Um dos destaques é a seção “Tudo no mundo começou com um sim”, que aborda a origem, tema recorrente da autora. Os dizeres são acompanhados de obras visuais, como a do ovo, nas séries Ninhos e ovos de Celeida Tostes. A frase que dá nome ao núcleo é de A Hora da Estrela, obra de Clarice que mais marcou a atriz Silvia Quadros. “Tudo que tá conectado, todas as frases, tudo que aparece sobre a A Hora da Estrela sempre me traz aquela coisa. Ela é maravilhosa, realmente a obra é muito complexa em relação ao ser humano. Ela destrincha o íntimo do ser humano e isso é incrível.”

A mostra conta com os ambientes batizados de “Apartamento” – como se fosse a casa de Clarice Lispector. A intimidade da reservada escritora aparece nos retratos, anotações, cartas, discos, primeiras edições de livros e documentos, como o de naturalização dela, que nasceu na Ucrânia, assinada pelo presidente Getúlio Vargas. A exposição termina com dezenas de páginas do manuscrito “Um Sopro de Vida”. A obra começou a ser pensada em 1974, apenas três anos antes da morte de Clarice. A escritora quis finalizar o livro em um clímax, deixando os leitores com reticências.

*Com informações da repórter Nanny Cox

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