‘Foi uma perda de tempo’, avalia cientista político sobre sabatina de Bolsonaro na Globo

Marcelo Suano, professor do Insper, criticou a condução da entrevista pela falta de debate sobre projetos do governo

  • Por Jovem Pan
  • 23/08/2022 10h25
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Reprodução/Globo jair-bolsonaro-william-bonner-globo-sabatina-reproducao-tv-globo Presidente Jair Bolsonaro (PL) foi sabatinado nesta segunda-feira, 22

Assim como a Jovem Pan News, a Rede Globo também começou a realizar uma série de sabatinas com os candidatos à presidência da República. Nesta segunda-feira, 22, o Jornal Nacional recebeu o presidente Jair Bolsonaro (PL). Na entrevista, foram discutidas as medidas adotadas durante a pandemia e o candidato foi questionado a respeito das críticas às urnas eletrônicas. Na ocasião, Bolsonaro deixou claro que vai respeitar as eleições apenas se forem limpas e transparentes. Para comentar a sabatina, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o cientista político e professor do Insper, Marcelo Suano. A respeito do clima da entrevista, o especialista criticou a confrontação direta ao presidente e a falta de debate a respeito dos projetos do governo: “O que nós vimos foi uma perda de oportunidade muito grande da Rede Globo de poder apresentar para o público o que se deseja, um debate sobre projetos, a possibilidade de avaliar a coerência e tentar separar o amador do profissional… Foi uma perda de tempo porque ficou muito claro para o público que ali não estava uma entrevista acerca do que se espera de um presidente da República. A entrevista foi transformada em um processo de interrogatório inquisitorial”.

“A Rede Globo acabou mostrando a sua perspectiva. Interrupções, forma inadequada de se referir ao candidato e um embate cheio de condicionais. Por exemplo, quando ele diz ‘respeitarei o resultado das eleições se forem limpas e transparentes’, isso é uma condicional que é positiva para a perspectiva do presidente, porque esse é o seu discurso… Houve a perda de oportunidade de trazer nível, um nível cada vez maior que se espera de um processo eleitoral em que os candidatos apresentem propostas de governo. Ficou um embate muito claro entre dois inimigos, e essa postura de inimizade foi vinda da Rede Globo, que chegou diretamente e pressionou. No início, parecia que o presidente Bolsonaro iria cair em uma armadilha, quando ele disse ‘isso é fake news’. Mas isso é de menos importância na forma como ficou configurado. Se você observar de uma forma bem fria, não houve alteração das perspectivas e, muito menos, daquilo que se esperava dos núcleos que já estão definidos. No entanto, me parece que o presidente acabou muito melhor a entrevista do que ele chegou. Recebeu um embate muito forte de indivíduos que se posicionaram como inimigos”, analisou Suano.

Em dado momento da sabatina, Jair Bolsonaro foi questionado sobre sua relação com o Congresso Nacional e, em especial, suas negociações com o núcleo dos partidos do chamado Centrão. Para o cientista político, apesar do presidente ter se colocado contra o Centrão e como o candidato da antipolítica em 2018, ao responder os questionamentos o mandatário teria acertado ao destinar críticas ao sistema político como um todo: “Me parece que a resposta do presidente foi, diante do público que estava ouvindo, uma resposta satisfatória. Ele praticamente disse: ‘Não há como governar neste país com este sistema político’. O nosso sistema político é um sistema que não permite um tipo de governo no qual você possa tocar projetos de uma maneira que não seja necessário negociar com o Congresso, e de acordo com a metodologia adotada por governos específicos esse projeto se torna mais, ou menos, corrompido. A culpa é do Congresso que é corrupto? Não, eu digo que a culpa é do nosso sistema político”.

Segundo os dados de audiência, a entrevista que deu a largada na série de sabatinas da Globo, marcou 32,4 pontos de média, com picos de 37, maior alcance registrado na televisão brasileira em 2022. O professor Marcelo Suano atribuiu os índices ao interesse da população em ouvir o mandatário do país e associou o sucesso ao recorde que o presidente bateu no YouTube na sua participação no Flow Podcast: “Todo esse índice de audiência se deve, muito provavelmente, à presença do presidente da República. Basta que se veja os podcasts que foram feitos e o volume gigantesco de pessoas assistindo. O que mostra o interesse muito grande das pessoas ouvirem o presidente apresentar as suas propostas. Pelo fato dele não ter conseguido, e ter ocorrido este embate entre os entrevistadores e ele, acaba ficando negativo para a Rede Globo e positivo para ele. Independentemente se aquilo que ele falou procedia, ou não. Ele não ficou desequilibrado, apesar de tentarem desequilibrá-lo. Ele manteve a postura, tanto que ele se saiu melhor do que a primeira vez em que ele foi [em 2018]”.

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