Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes sinalizam trégua em conflitos, avalia cientista política
Especialista comentou os desafios do novo comando do TSE, as relações entre Judiciário e Executivo e a expectativa para as campanhas eleitorais
Nesta terça-feira, 16, será realizada a cerimônia de posse dos ministros Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os dois assumem a presidência e a vice-presidência. Para a cerimônia, estão previstas as presenças de ex-presidentes da República e candidatos ao Palácio do Planalto. Para comentar o novo comando do TSE, as relações entre Judiciário e Executivo e a expectativa para as campanhas eleitorais, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou a cientista política Deysi Cioccari. Para a professora, Moraes e Bolsonaro estariam em uma fase conciliatória: “Os últimos sinais políticos foram bem positivos. O presidente Jair Bolsonaro recebeu Alexandre de Moraes na semana passada, deu uma camiseta de time de futebol para ele. Isso é, na minha opinião, uma sinalização de trégua”.
“O ministro da defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, confirmou a presença na posse, o que indica um arrefecimento nas relações entre o STF e as Forças Armadas. Eu acredito que possa ser uma posse tranquila e possa amenizar e arrefecer os ânimos nessa disputa eleitoral que já promete ser tão polarizada”, opinou. Para Cioccari, as relações entre o STF, Palácio do Planalto e Congresso Nacional refletem um momento conturbado da democracia brasileira: “O TSE deveria ter uma visibilidade menor, uma atuação mais discreta. Isso mostra um pouquinho da confusão que temos vivido nos últimos anos, quando um poder vai por cima do outro. STF e Congresso não estão delimitados nos seus afazeres… O governo teve muitos atritos com Alexandre de Moraes. Eu espero que essas últimas atitudes dos principais mandatários indiquem um arrefecimento nas relações, para que as eleições possam transcorrer no maior clima de tranquilidade possível”.
De acordo com a especialista, o principal desafio e obrigação do TSE, em 2022, é conseguir efetuar um bom combate ao disparo em massa de conteúdo falso e desinformação, as chamadas fake news: “Principal desafio agora vai ser justamente manter o clima de normalidade, já que é uma eleição diferente das outras pelos principais líderes nas pesquisas, que são personagens muito fortes. E também a questão das fake news. A gente já acordou com as redes sociais em outro tom, outra toada. O maior desafio agora é realmente o combate às fake news, que fica um pouco descontrolado porque, no Brasil, a gente não tem essa definição exata do que são as fake news e como punir. Acho que isso pode ficar descontrolado nas eleições, esse é o maior desafio no período eleitoral”.
Cioccari acredita que o cenário de polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) deve se manter até o final da corrida presidencial e destaca como as campanhas deveriam avaliar a dinâmica regional do país: “Eu não acredito em uma migração de votos para a Simone Tebet ou para o Ciro. Eles devem ficar nesses números, nunca imaginei uma possibilidade deles superarem os dois dígitos. Eu realmente acredito que a disputa deve ficar entre Lula e Bolsonaro. Pelo o que eu tenho olhado nas últimas pesquisas, os votos estão cristalizados no Sul e no Nordeste pode haver alteração em função do Auxílio Brasil, mas eu acredito que o polo de mudanças de voto deva ser o Sudeste. É o maior colégio eleitoral, tem muitas pessoas, muitos votos diferentes, tem muita vulnerabilidade e muita alteração de votos. Acredito que quem souber trabalhar melhor o sudeste possa levar as eleições. Acredito que as campanhas já entenderam isso. Eles começam as campanhas em Minas Gerais… Acredito que essa eleição possa ser definida no Sudeste”.
A cientista política ainda pondera que, diferentemente de 2018, o foco da eleição deve se concentrar na questão econômica e superação da pandemia: “O problema dessas eleições realmente é a inflação e o desemprego. A eleição de 2018 foi uma eleição da corrupção, a gente estava cansado do esquema de corrupção que vinha assolando o Brasil há muitos anos. E o presidente Jair Bolsonaro conseguiu se eleger com essa toada anticorrupção. Esse ano a pauta deve ser econômica. A gente tem uma guerra, teve uma pandemia, teve um choque inflacionário global e tudo isso reflete muito mais no voto”.
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