Mãe de adolescente que morreu após receber vacina da Pfizer diz que filha não tinha doença autoimune

Secretaria de Saúde do Estado aponta ‘Púrpura Trombótica Trombocitopênica’ como provável causa da morte; responsável por Isabelle afirma não ter recebido informações oficiais das autoridades

  • Por Jovem Pan
  • 20/09/2021 08h25 - Atualizado em 20/09/2021 15h27
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JOAO GABRIEL ALVES/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO - 26/08/2021 Agente de saúde aplica dose da vacina da Pfizer contra a covid-19 em adolescente de 17 anos, durante a vacinação realizada no Posto montado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro Adolescentes começou a sentir os primeiros sintomas logo após receber a primeira dose da vacina

Isabelle Borges Valentim, de 16 anos, começou a passar mal em casa menos de 12 horas depois de tomar a primeira dose da vacina da Pfizer em uma escola em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo. A imunização era o maior desejo da jovem, que havia ganhado uma viagem para Disney da mãe há um ano, mas que precisou adiar a realização do sonho até que fosse vacinada contra a Covid-19. Na última sexta-feira, 17, a Secretaria Estadual de Saúde divulgou uma nota na qual descarta que a vacina tenha sido a causa da morte de Isabelle. Segundo a pasta, 70 profissionais analisaram o caso e concluíram que a menina tinha uma doença autoimune rara e grave chamada de “Púrpura Trombótica Trombocitopênica“, um distúrbio que envolve a formação de pequenos coágulos de sangue por todo o corpo. Os coágulos bloqueiam o fluxo de sangue para os órgãos vitais como o cérebro, o coração e os rins. Cristiane Borges é a mãe de Isabelle e pela primeira vez aceitou falar publicamente sobre o caso.

Em meio à dor de ter perdido a única filha tão precocemente, ela enfrenta ainda a falta de informação por parte das autoridades. A mãe diz que a filha nunca teve qualquer doença pré-existente ou autoimune e afirmou que anualmente Isabelle passava por exames de rotina, inclusive de sangue. “Foi o que eu falei para os médicos. Eu nunca soube que a minha filha tinha nada. Ela sempre teve uma vida saudável. Então eu estou disponível para que o médico me chame e falei assim: ‘Mãe, você não sabia, mas a Isabelle tinha essa doença pré-existente’. Eu não sei. Eu não conheço, eu não sou médica, mas, em todos os exames, a Isabelle nunca teve nada. Foi depois que ela tomou a vacina”, apontou a mãe. A afirmação de Cristiane é a mesma do Secretário Municipal de Saúde de São Bernardo do Campo, Geraldo Sobrinho. “Pelo que nós vimos, pelo que os especialistas falaram, provavelmente ela não tinha nada. Essa coisa foi desencadeada agora, por isso a mãe tem toda a razão. Essa menina, pelo que falam e pelo que a mãe tem citado para nós, nunca passou com alguma doença pela rede pública”, afirmou Sobrinho.

O secretário esclarece ainda que a doença autoimune de Isabela foi descoberta quando a jovem estava internada na UTI. “Foram vários especialistas. Você tinha cardiologista, hematologista… Foi um grupo grande, que estuda os eventos adversos. Esses especialistas chegaram a esta conclusão de ‘Púrpura Trombótica Trombocitopênica’ porque o atestado estava dizendo outra coisa”, lembrou o secretário. Os sintomas de Isabelle foram ficando mais fortes com o passar dos dias. Fraqueza, falta de ar e até formigamento pelo corpo. A adolescente passou por dois hospitais em São Bernardo do Campo, e, em ambos, o que Cristiane ouvia era de que se tratava de uma reação adversa desencadeada pela vacina. A jovem foi internada depois que teve uma convulsão na porta do hospital, minutos após ter recebido a alta médica. Isabelle foi levada para o Hospital Vidas, em Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. “Ela falou três palavras que não saem da minha cabeça: ‘Mãe, eu te amo’. Aí ela pediu um abraço e falou que a única coisa que ela queria era ficar boa. Eu falei: ‘Filha, acredita na mamãe. Você vai ficar boa'”, relatou. Cristiane conta que nenhuma autoridade de saúde municipal, estadual ou federal a procurou para esclarecer a morte da filha e que recebeu todas as informações, até agora, pela imprensa. “Eu nem peguei o prontuário. O hospital nem sequer me chamou para falar o que a minha filha tinha”, disse.

Cristiane não teve acesso ao laudo médico da filha. Em áudio obtido pela nossa reportagem, uma funcionária do hospital onde Isabelle morreu disse que Cristiane só poderia pegar o relatório nesta segunda-feira, 20. “Inclusive, é um prontuário que foi manipulado ontem pelos órgãos. A doutora Fabíola foi muito receptiva, acolhedora, muito gentil com toda a nossa equipe. Nós não estamos, de forma alguma, não viabilizando o acesso a ela, pelo contrário, nós estamos agilizando para que vocês que tenham acesso ao prontuário com mais brevidade”, explicou a funcionária. De acordo com Cristiane, o laudo médico não bate com a certidão de óbito de Isabelle, informação confirmada também pelo Secretário Municipal de Saúde de São Bernardo do Campo, Geraldo Sobrinho. “Os cardiologistas presentes descartaram aquilo que está no atestado de óbito. Ela não faleceu daquilo que está no laudo”, revelou. O Estado de São Paulo, por meio de nota, informou que distribui para aplicação em adolescentes somente vacinas contra a Covid-19 autorizadas pela Anvisa. A nota diz ainda que, de 2,4 milhões jovens imunizados, apenas 0,001 de eventos adversos foram identificados. O mais grave relacionado ao laboratório Pfizer foi a miocardite, uma inflamação do músculo do coração que pode surgir como uma complicação de diferentes tipos de infecção no organismo, causando sintomas como dor no peito, falta de ar ou tonturas.

Na última quinta-feira, 16, o Ministério da Saúde voltou atrás e pediu a suspensão da vacinação em adolescentes, recomendação que não foi seguida por Estados como São Paulo e Rio de Janeiro. O pedido foi alvo de críticas por órgãos de saúde como a própria Anvisa, que reafirmou a confiança na eficácia da vacina da Pfizer. As Secretarias Municipal e Estadual de Saúde de São Paulo foram convidadas a participar desta reportagem, chegaram a agendar entrevistas, mas desmarcaram por falta de horário na agenda. Cristiane, mãe de Isabelle, deixa claro que confia na vacina e que a filha também sempre confiou na eficácia dos imunizantes, mas que, como mãe, só queria entender o real motivo da morte precoce da filha. “Independente da forma que a minha filha morreu, eu sou a mãe dela e eu deveria ser a primeira pessoa a saber qual foi o motivo da causa morte da Isabelle. Não teve nenhum tipo de humanização do hospital, nenhum tipo preocupação em chegar, me chamar e falar o que aconteceu. Eu fiquei sabendo pelas redes sociais”, finalizou a mãe.

*Com informações do repórter Maicon Mendes

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