Migração do ensino público para o privado dispara em oito anos da Lei de Cotas

Objetivo é conseguir os benefícios que reservam 50% das vagas em todos os cursos de universidades federais

  • Por Jovem Pan
  • 09/01/2021 08h42 - Atualizado em 09/01/2021 08h43
MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO Segundo a pesquisadora, não há aumento de movimento de alunos das escolas de mais alto nível socioeconômico do setor privado

Desde a implementação da Lei de Cotas, em 2012, o número de estudantes brasileiros que fizeram o Ensino Fundamental em escolas privadas e decidiram migrar para o Ensino Médio em escolas públicas mais do que dobrou. De acordo com uma pesquisa feita por brasileiros na Barcelona Graduate School of Economics, na Espanha, em 2013, 15% dos estudantes tomaram essa decisão, número que chegou a 34% em 2015.

O objetivo desses alunos é conseguir os benefícios da lei, que reserva 50% das vagas em todos os cursos de universidades federais para alunos que fizeram os três últimos anos da escola no ensino público. A medida também estabelece subcotas, por critérios de raça e renda. A economista Ursula Mello, responsável pelo estudo, afirma que o movimento não acontece entre os mais ricos, mas sim com estudantes pretos, pardos e indígenas e de menor nível socioeconômico. “A pesquisa mostrou o contrário, né? Os alunos que fazem essa escolha são o de perfil mais vulnerável dentro da escola privada. São famílias que provavelmente faziam um esforço grande para manter os filhos na escola privada.”

Segundo a pesquisadora, não há aumento de movimento de alunos das escolas de mais alto nível socioeconômico do setor privado. Já a mudança entre os colégios particulares de menor nível econômico chega a 38%. Para Ursula Mello, a lei acabou promovendo uma valorização da escola pública, mas outras atitudes podem ser tomadas para democratizar ainda mais o acesso ao ensino público superior. “Há maior incentivo para que se estude na escola pública, incentivo para que ele estude mais. Um outro ponto é pensar se isso é suficiente ou se ainda há necessidade de democratizar mais.” A economista descarta, ainda, que o estudo pode servir como ferramenta durante a revisão da Lei de Cotas, prevista para acontecer em 2022, dez anos depois de sua implementação no país.

*Com informações da repórter Beatriz Manfredini

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