Mudanças climáticas: Relatório IPCC projeta colapso de ecossistemas e impactos na vida humana
Projeções mostram que 2,7 milhões de pessoas devem se deslocar anualmente por inundações causadas pelo desequilíbrio ambiental; Brasil também deve sofrer com ondas de calor e incêndios florestais
O desmatamento continua avançando no Brasil. Ao todo, 3,6 mil quilômetros quadrados da floresta amazônica foram ao chão só nos primeiros seis meses deste ano, o equivalente a 24 cidades do tamanho de São Paulo fossem totalmente destruídas. E extermínio não para de crescer, com aumento de 17% em relação aos mesmos primeiros seis meses do ano passado, período considerado trágico pelos especialistas. O que não é arrancado é queimado. A devastação não tem controle e todo o ecossistema se desequilibra. Para os cientistas, vivemos o perigo dos impactos em cascata. A civilização como conhecemos está perto do ponto em que a mudança climática não tem mais conserto. “As alterações no clima irão remodelar fundamentalmente a vida na Terra nas próximas décadas, mesmo que a humanidade consiga conter as emissões de gases estufa”, diz relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Aos olhos da ciência, o cenário ameaçador para a própria existência da espécie humana não é previsão para o futuro, já é realidade.
O risco acontece porque existem limites nas interferências ao ecossistema. Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, explica a grave situação. “Se você agredir demasiadamente a floresta Amazônica, ela passa do ponto de não-retorno, que seria de 25% da destruição da massa florestal, e aí a floresta passa por um processo de fenecimento. Em outras palavras, a floresta começa a morrer independente de você agredi-la ou não, porque há uma transformação no clima e isso faz com que ela entre no processo de colapso”, pontua. Os sinais são claros. O Brasil deve enfrentar em poucos meses a pior seca dos últimos 91 anos, segundo previsão do Ministério de Minas e Energia. Enquanto isso, nos polos, o perigo vem do excesso de águas. O aumento de 2ºC na temperatura do planeta derrete o gelo no topo da Groenlândia, no polo norte e no oeste da Antártida, no polo sul. Com isso, o nível dos oceanos pode subir 13 metros e algumas cidades litorâneas podem desaparecer, alerta o cientista norte-americano Benjamin Strauss, da Climate Central.
“O impacto que as cidades sofrerão até 2050 é a pior das enchentes. E esses eventos se tornarão mais frequentes. Grande parte das áreas costeiras são de risco, muitas delas acabarão por inundação no longo prazo e na metade do século sentiremos muito mais os efeitos”, afirmou. As projeções dos especialistas sobre os efeitos do aquecimento global assustam: 2,7 milhões de pessoas devem se deslocar todos os anos por causa das inundações. Entre 70% e 90% dos recifes de coral do mundo devem diminuir com um aquecimento limitado a 1,5ºC. Até 54% dos animais marinhos e terrestres estarão ameaçados de extinção neste século.
O sudeste da Ásia, o Mediterrâneo e as zonas costeiras do Brasil serão atingidos por ondas de calor, incêndios florestais e inundações. O tempo para evitar os danos é curto, afirma o ambientalista Carlos Bocuhy. “É muito importante que você tenha políticas públicas que façam o mapeamento dos ecossistemas mais frágeis que seriam atingidos pelas mudanças climáticas e sejam adotadas todas as medidas no sentido de protegê-los. A questão é que nós estamos antevendo o que se tinha como perspectiva para o ano 2100, estamos enfrentando esse cenário para 2050”, pontua. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas é taxativo: as escolhas de hoje vão definir se a civilização como conhecemos vai prosperar ou apenas sobreviver até se extinguir, ainda no século 21.
*Com informações da repórter Lívia Fernanda
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