‘Acervos deveriam ser geridos pela iniciativa privada’, diz crítico de cinema após incêndio na Cinemateca

Especialista em audiovisual Paulo Gustavo Pereira defende que o governo não deveria ter nenhuma responsabilidade: ‘Problema é que a nossa indústria cultural depende de auxílio do poder público’

  • Por Jovem Pan
  • 31/07/2021 11h39 - Atualizado em 31/07/2021 12h04
RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - 29/07/2021 Cinemateca na Vila Leopoldina pega fogo, na cidade de São Paulo, SP Incêndio atingiu a Cinemateca Brasileira na última quinta-feira, 29

O jornalista e especialista em audiovisual, Paulo Gustavo Pereira, analisou o prejuízo no acervo da Cinemateca Brasileira causado pelo incêndio na última quinta-feira, 28. Os danos ainda não foram divulgados, mas o fogo pode ter afetado uma parte do acervo do cineasta Glauber Rocha, da Embrafilme e do Instituto Nacional do Cinema. O crítico defende que os acervos culturais brasileiros sejam geridos pela iniciativa privada, não pelo poder público. “Eu acho que o governo brasileiro não deveria ter nenhuma responsabilidade em relação a isso. [A gestão] deveria ser passado para a iniciativa privada. Nos Estados Unidos, existe pelo menos dois ou três grandes museus de transmissão de televisão. E eles são da iniciativa privada, é a própria indústria que cuida. O problema é que a nossa indústria cultural depende do auxílio do governo e não pode ser desse jeito”, afirmou Paulo Gustavo em entrevista ao Jornal da Manhã.

“A falta de cuidado é na parte técnica. Todo mundo sabe que você não pode deixar películas em qualquer tipo de galpão, porque a película é altamente inflamável. A Hanna Barbera perdeu metade do acervo nos anos 70 porque deixou em um arquivo qualquer. Teve combustão espontânea, como aconteceu também na Cinemateca em 2016, porque esse tipo de material tem que ser guardado de uma maneira muito diferente”, explicou. Para mostrar a efetividade da gestão privada, o especialista usou como exemplo a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), uma empresa televisa norte-americana, que arrendou uma mina antiga de sal para armazenar os seus arquivos originais. Nesse tipo de ambiente, como é seco, não há risco de explosão. “A nossa memória, que está se perdendo cada dia mais, devia estar na mão de particulares”, enfatizou. “Se a gente não tiver alguém que cuide e faça a manutenção, nós vamos perder toda essa história outra vez. Nós vamos perder isso por incompetência nossa de cobrar de quem tem que fazer as coisas direito. Ou seja, governo, você só cria a estrutura. Deixa a administração para a iniciativa privada. Pega tudo que é da Cinemateca, do Museu da Imagem e do Som e transformar isso em serviços de utilidade pública, porque, caso contrário, vamos perder muito mais do que simplesmente séries e novelas de televisão”, finalizou.

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