Países ricos precisam ajudar o Brasil a pagar a conta da preservação das florestas, diz Mauro Mendes
Segundo o governador do Mato Grosso, as metas estipuladas pelo país na COP26 só serão atingidas se os gestores estaduais também se comprometerem
O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), está em Glasgow, na Escócia, participando da cúpula do clima, COP26. Em entrevista ao vivo ao Jornal da Manhã, ele destacou o papel do seu Estado para que o Brasil siga, cada vez mais, no caminho do desenvolvimento de uma economia verde, com baixa emissão de carbono. Segundo Mendes, a produção de alimentos do Mato Grosso é a maior do Brasil e, por lá, já há alguns anos vem sendo tomadas medidas para cuidar dos efeitos no clima. “A produção de alimentos do Mato Grosso, que é o maior produtor brasileiro dessas commodities agrícolas, nós estivemos na COP para falar um pouco disso, sobre a nossa preservação ambiental mas acima de tudo também a grande capacidade que o Mato Grosso tem, que o Brasil tem, de produzir alimentos pra nós brasileiros e pra uma boa parte do mundo que compra esses produtos”, disse. Mendes destacou ainda que a preservação ambiental no Brasil já é grande, mas que os países ricos precisam ajudar a pagar a conta dela.
Mendes destacou ainda que a imagem internacional do Brasil é, em parte, muito negativa na questão ambiental, mas que os países ricos estão em situação mais grave. “É triste ver que, durante alguns anos, satanizou-se a imagem do Brasil na questão ambiental. Acho que grandes países são grandes emissores [de carbono] principalmente queimando combustíveis fósseis, a base do petróleo. O Brasil tem praticamente 85% da sua matriz energética de energia renovável, hidrelétricas, [energia] solar está crescendo muito, mas é muito ruim ver que uma parte da imprensa internacional, uma parte de ativistas internacionais demonizam o nosso país por conta da floresta Amazônica. Está certo, nós queremos preservar, sim, esse patrimônio. Queremos fazer com que haja um novo modelo de desenvolvimento sustentável no Brasil. Porém nós temos que reconhecer que este serviço ambiental que o Brasil, que a Amazônia, pode prestar ao planeta tem preço e não só nós brasileiros podemos pagar esse preço. Os países ricos precisam colocar a mão no bolso, eu disse em algumas conferências que aquele primeiro anúncio que eles fizeram 10 bilhões de dólares era muito pouco, era ínfimo para quem quer salvar o planeta. Quantos bilhões ou trilhões de reais ou de dólares foi colocado, agora, para salvar as economias no meio dessa pandemia? A pandemia não era um grave risco? Não só a vida, mas também às economias, e colocou-se trilhões de dólares. E aí eles vem num primeiro anúncio com muito pouco, chegou a ser ridículo na minha opinião, para um assunto tão sério, tão grave, como esse de reverter estas mudanças climáticas a partir de uma mudança no padrão de produzir de consumir, que deverá acontecer em todo o mundo. As nossas florestas, aquilo que o Brasil e o Mato Grosso fazem tem preço e os países ricos precisam ajudar a pagar essa conta”, pontuou o governador.
Sobre as metas estipuladas pelo Brasil na COP26, ele afirmou que alcançá-las vai depender principalmente das metas estaduais e do compromissos dos governadores com a questão do clima, quem, segundo ele, possuem ligação mais direta com produtores e que, por isso, podem tomar ações mais concretas para a preservação. “Eu vi um pouco das metas do Brasil, mas a meta que o Brasil vai atingir vai depender muito das metas que os estados, os governadores, estão assumindo. Porque, no final do dia, somos nós, estados, governadores, que estamos mais próximos dos produtores, da produção, das ações mais concretas e efetivas que podem ser tomadas. O meu estado assumiu uma meta muito mais ousada. O Estado do Mato Grosso assumiu a meta que até 2035, 15 anos antes da maioria dos países, nós vamos zerar as nossas emissões de carbono. Isso porque nós já estamos fazendo. Nós já estamos tomando uma série de providências já há alguns anos para reduzir a emissão [de carbono], ter uma economia verde, sustentável, com grande preservação, no nosso caso por exemplo, no Mato Grosso, somos o maior produtor brasileiro e temos 62% do nosso território preservado, como há 500 anos. Nós mostramos isso na COP, conversamos com ONGs, com governos, com ministro de vários países, tivemos lá com o príncipe Charles, e mostramos exatamente isso, que é a verdade também, que em muitos momentos se fala muito mal do Brasil, quando nós temos aqui grandes ativos ambientais para prestar serviço ao planeta e a nós mesmos brasileiros”, afirmou.
Mendes ainda falou sobre o aquecimento global ser uma questão concreta que precisa ser combatida nos próximos anos: “Essa discussão do clima que está se travando na COP é uma discussão extremamente importante. Acho que aqueles que não acreditavam que as mudanças climáticas poderiam acontecer, que o aquecimento global era apenas uma teoria de alguns cientistas, quebraram a cara. Ao longo dos últimos anos, nós temos percebido em todo planeta diversos sinais incontestáveis de que existe uma mudança em curso no regime de chuvas, cada vez catástrofes acontecem, e essas mudanças estão associadas ao aquecimento global, provocado por uma alta taxa de emissão de carbono. Isso vai mudar muito a forma de viver no planeta. Vai exigir de todos nós um nível de esforço na forma de consumir, na forma produzir alimentos e na forma de se viver, tentando criar uma nova economia, chamada economia verde, de baixa emissão de carbono, como forma de buscar, nos próximos anos, e talvez não seja necessário muitos longos anos, uma redução dessas emissões, inverter esse processo de aquecimento global”.
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