‘Petrobras deixou de investir no refino’, critica especialista sobre preço alto do diesel

Economista Rodrigo Zingales avalia que as escolhas estratégicas da gestão da petroleira afetaram diretamente na alta do valor dos combustíveis

  • Por Jovem Pan
  • 15/08/2022 09h40
LUCIANO CLAUDINO/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO Vista das instalações da Refinaria de Paulínia (Replan), a maior refinaria de petróleo da Petrobras Vista das instalações da Refinaria de Paulínia (Replan), a maior refinaria de petróleo da Petrobras

A Petrobras prevê uma série de reduções no preço dos combustíveis, mas motoristas e empresários esperam uma queda mais significativa no valor dos produtos nas bombas. Sobre a expectativa de alívio no bolso do consumidor final, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou Rodrigo Zingales, que é presidente da Associação Brasileira de Revendedores de Combustíveis Independentes e Livres (AbriLivre). Sobre a questão do alto valor do diesel, apesar das sucessivas reduções da petroleira, o economista culpa a gestão da estatal pela falta de investimento em refinarias: “A Petrobras deixou de investir no refino nos últimos 5 ou 6 anos. Em termos de diesel, a Petrobras consegue abastecer um pouco menos de 80% de toda a demanda brasileira. Ou seja, precisamos ter importação de diesel. Hoje, a Petrobras não têm importado muito diesel, essa importação acaba sendo feita pelas empresas privadas, que estão pagando diesel a preços internacionais. O preço deu uma queda nas últimas semanas, mas esse preço acaba gerando um inflacionamento do preço do diesel. A Petrobras acaba seguindo o preço internacional do diesel e não fazendo seu preço de custo”.

“Uma outra medida para o diesel cair é a Petrobras assumir essa importação de 20% da demanda brasileira e fazer o preço do diesel, assim como da gasolina, baseado no mix do custo de produção dela mais o preço de importação. A gente acredita que, se fosse feita uma política nessa linha, a gente teria uma redução. Com o preço do petróleo internacional girando entorno de US$ 100, o preço do mercado interno poderia chegar a US$ 60, US$ 65 o barril do petróleo, se adotasse essa política”, argumenta Zingales. Para o especialista em combustíveis as medidas de redução de impostos sobre os combustíveis não afetaram o diesel porque o valor praticado era acima da média, entretanto as reduções feitas pela Petrobras devem aliviar o bolso do consumidor final em breve: “É importante destacar a questão do diesel para os caminhoneiros. A medida tributária gerou impacto zero no preço do diesel porque o preço do diesel da Petrobras estava acima do preço médio do PMPF [Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final] de 60 meses. A alíquota, que na maioria das vezes era abaixo de 18%, não impactou no preço do diesel. Não houve para o diesel a redução do combustível. Muita da queda da tributação ainda não repassada para os postos. As distribuidoras têm um mercado bastante concentrado e não repassaram integralmente a redução dos tributos. Então se a as distribuidoras repassarem a integralidade da redução de tributos, certamente a expectativa é que caia o preço nos postos e, consequentemente nas bombas”.

O economista também defende uma maior regulamentação dos contratos das distribuidoras. A medida teria o objetivo de aumentar a previsibilidade e transparência dos preços praticados: “Hoje, praticamente 60 a 70% de toda a oferta de combustíveis está na mão de três grandes distribuidoras que têm contratos de exclusividade com os postos de combustíveis. A primeira posição nossa é a regulamentação desses contratos, porque esses contratos não trazem um preço de compra para o posto. As distribuidoras estão livres para discriminar preços. Então, o posto de uma bandeira X acaba com um preço mais caro do que outro posto de uma mesma bandeira X. Por isso a regulamentação de contratos por meio de criação de cláusula de preço, onde há a previsibilidade de quanto o posto vai pagar é fundamental. Além disso, a transparência nos preços das distribuidoras também é ouro ponto muito importante. Com transparência, o Estado consegue verificar se há, ou não, essa discriminação, que comumente aumenta o preço”.

Por fim, Zingales criticou novamente a diretriz da Petrobras de priorizar a extração, em detrimento do refino. Contudo, o economista descartou a hipótese de que casos de corrupção nas refinarias tenham sido determinantes para o aumento de preços da petroleira: “A corrupção gerou um problema gravíssimo na Petrobras e no Brasil. Em relação ao refino, eu entendo que foi uma mudança da política interna da Petrobras, ela passou a investir mais na exploração do petróleo e deixou o refino um pouco de lado. Acho que a questão da corrupção pouco teve a ver com isso, foi muito mais uma decisão estratégica dos acionistas de focar na exploração e extração do petróleo, do que propriamente no refino. Na minha visão como economista e brasileiro, foi um erro. O que o brasileiro compra é gasolina e diesel, então deveria ter trabalhado para aumentar a oferta de gasolina e diesel para depender menos do combustível importado”.

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