Preconceito ajuda a explicar violência policial no Brasil
O segundo episódio da série especial da Jovem Pan discute o racismo como um dos pilares da violência policial no Brasil
Era noite em Macapá quando a pedagoga Eliane da Silva viu os amigos serem abordados por policiais militares na porta de casa. Assustada com a truculência, começou a gravar e a questionar a ação dos PMs. De repente, um dos policiais se irritou, deu voz de prisão e a derrubou. Imobilizada, a pedagoga relatou ter ouvido o policial dizendo: “só podia ser preta”. A história de Eliane ilustra o perfil de muitas das vítimas de violência policial no Brasil.
Um relatório produzido pela Rede de Observatórios da Segurança, um grupo de estudos sobre violência nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Pernambuco reuniu dados que demonstram como a população negra é a principal vítima da violência policial no Brasil. Os negros são 75% dos mortos pela polícia. O advogado e professor de políticas de diversidade da Fundação Getúlio Vargas, Thiago Amparo, ressalta que criticar a violência policial não é querer o fim das policias, mas, sim, melhorar a Segurança Pública do país.
“A gente tem que desarmar um pouco essa ideia que acha que quando falamos de violência policial estamos falando do fim das polícias, na verdade não. A gente quer melhorar a polícia, a gente quer que a polícia seja mais democrática, que os policiais não saiam todos os dias para batalhas que não tem nenhum sentido em termo de segurança pública. Veja o Rio de Janeiro, muitas operações parecem um teatro, subindo e descendo morro, e que não tem nenhum impacto”, explica.
O caso de George Floyd, homem negro que morreu enforcado por um policial em maio nos Estados Unidos, gerou comoção e provocou protestos também no Brasil. Diante disso, a professora da Universidade de Chicago e especialista em Segurança Pública pela Universidade de Harvard, Yanilda Maria Gonzáles, afirma que a violência policial nos Estados Unidos repete padrões do que se vê no Brasil. “Na América Latina, nos Estados Unidos e em vários outros países do mundo, a violência policial segue padrões que reforçam a estrutura de desigualdade social. Em cada país tem setores que são os mais vulneráveis frente a violência policial. Na América Latina e nos Estados Unidos, esses grupos são comunidades negras e comunidades pobres.”
*Com informações do repórter Leonardo Martins
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