Recorde de importação no setor químico aumenta dependência em produtos estratégicos

Pandemia já havia apresentado os riscos da excessiva necessidade de itens básicos que não são fabricados no Brasil

  • Por Jovem Pan
  • 18/07/2022 12h06 - Atualizado em 18/07/2022 12h29
Cecília Bastos/USP Imagens Cecília Bastos/USP Imagens A indústria química instalada no Brasil garante que não existem condições de competir com os principais mercados hoje no mundo em razão da ausência de discussão de uma reforma tributária no país

A pandemia já havia apresentado os riscos da excessiva necessidade de itens básicos que não são fabricados no Brasil, mas a guerra na Ucrânia ressaltou ainda mais esse cenário e levou a um recorde de importações no setor da indústria química, o que aumentou a dependência brasileira em produtos estratégicos. Um dos maiores produtores mundiais de alimentos, o Brasil importa 95% dos fertilizantes usados no agronegócio. A diretora de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Denise Mazzaro Narranjo ressaltou, em entrevista à Jovem Pan, o efeito nocivo da desindustrialização no país.

“A indústria é afetada pela importação e sofre um ataque direto porque não consegue competir com aquele produto que vem de fora. Há uma ação direta que é provocar uma desindustrialização e crises diversas que vem com isso. Mas, a médio e longo prazo, a falta de investimentos é a pior coisa que pode acontecer com a indústria. Porque a falta de investimento leva em várias frente a deixar de produzir, não tem como continuar produzindo”, alertou a especialista.

A indústria química instalada no Brasil garante que não existem condições de competir com os principais mercados hoje no mundo em razão da ausência de discussão de uma reforma tributária no país. Isso torna o ambiente de negócios muito mais hostil e custoso aos investidores. Em economias desenvolvidas, como a dos Estados Unidos, o governo garante inclusive subsídios ao setor químico, dada a sua importância. Os custos de logística, insumos e, sobretudo, energia são muito mais elevados no Brasil.

O diretor de relações institucionais da Abiquim, André Passos Cordeiro, reforça que o setor condena o processo de abertura de mercado, com reduções nas tarifas de importação, promovido pelo governo sem antes discutir reformas estruturantes: “A gente têm políticas para o agregado monetário, a gente têm políticas para o agregado fiscal, mas a gente não tem políticas de desenvolvimento econômico, infelizmente. Qual foi a solução? Compra tudo do resto do mundo”.

“É o que a gente está vendo na balança de químicos, que é a primeira, porque a gente precisa de químico em tudo. Da construção civil, à siderurgia, passando pelo cimento, mineração e agro. Tudo tem química, então esse setor começa a retomar, a gente não desenvolveu política e sai correndo para procurar importação. Esse problema afeta nossas reservas cambiais, diminui a margem dos negócios que tem preços fixados como commodities e a gente vai começando a girar uma bola de neve de novo”, criticou.

Em 2010, o Brasil importou US$ 33 bilhões em produtos químicos (cerca de R$ 177 bilhões). Dez anos depois, em 2020, o volume subiu para US$ 41 bilhões (cerca de R$ 220 bilhões) e, apenas no ano de 2021, as importações chegaram a US$ 61 bilhões (cerca de R$ 327 bilhões). Neste primeiro semestre de 2022, houve o recorde de US$ 29,7 bilhões (cerca de R$ 160 bilhões) em importações.

*Com informações do repórter Marcelo Mattos

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