‘Revogar reforma trabalhista iria contra os interesses do trabalhador’, diz Maílson da Nóbrega

Ex-ministro afirma duvidar que Lula, se eleito, faça a revogação da medida e que discurso do petista é apenas ameaça

  • Por Jovem Pan
  • 24/01/2022 10h35
IARA MORSELLI/ESTADÃO CONTEÚDO Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda Ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega concedeu uma entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, nesta segunda-feira, 24, para comentar quais seriam os efeitos de uma possível revogação de parte da reforma trabalhista, como defende o partido dos trabalhadores e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, a lei aprovada no governo Temer não retirou direitos dos trabalhadores e, ao contrário do defendido pelo PT, deve ser aprofundada e desenvolvida. Para Nóbrega a revogação iria contra os interesses do trabalhador e Lula, se eleito, não realizaria de fato a medida.

“Para revogar isso, precisa de outra decisão do Congresso. Por ora, o que existem são ameaças, e seria um retrocesso inaceitável. A reforma trabalhista, ao contrário do que dizem partidos de esquerda, não retirou qualquer benefício, qualquer vantagem, qualquer proteção dos trabalhadores. Essas coisas estão na Constituição. E a Constituição não foi alterada. A lei aprovada, chamada reforma trabalhista, é uma lei ordinária. Por outro lado, a revogação terminaria prejudicando os trabalhadores, porque tem várias vantagens da reforma, como o caso dos trabalhadores terceirizados. Eles não tinham proteção nenhuma. A lei obrigou as empresas a fazer treinamento, a pagar alimentação. Os trabalhadores obtiveram algum outro tipo de direito, por exemplo, ficar na empresa depois do expediente, esperando chegar a hora da faculdade, preparar o trabalho escolar, esperar a hora de apanhar os filhos na escola. Eu diria só que é o Lula falando para manter coesa a sua base de apoio, mas eu duvido que o Lula, se ganhar as eleições, faça essa bobagem, porque seria contra os interesse do trabalhador. E tem outra coisa que é a contribuição sindical. Os sindicatos estão trabalhando contra essa lei, talvez, porque eles queiram voltar ao bem bom da época em que eles recebiam recursos do Tesouro Nacional, não precisava se esforçar para conquistar adesões, e gastavam esse dinheiro como bem queriam. As empresas, os trabalhadores, contribuíam sem sequer saber quem eram os dirigentes dos sindicatos. Agora, cada sindicato, como é em todo o mundo para ter filiados, obter autorização para cobrar deles na folha de salários e assim por diante”, afirmou. “A meu ver, a reforma trabalhista precisa avançar e não regredir. Por exemplo, o Brasil tem uma coisa antiga, inaceitável, retrograda, que é a unicidade sindical. O trabalhador é obrigado a escolher só um sindicato, não tem competição, ao contrário do que acontece em todo o mundo. Os sindicatos tem que competir por filiados, prestando serviço, fazendo a melhor negociação”.

Questionado sobre o teto de gastos e a aprovação do orçamento, com vetos, pelo presidente Jair Bolsonaro, Nóbrega disse que a questão é preocupante. “Até que a gente encontre algo da inventividade dos economistas, dos políticos etc, algo que mantenha a âncora fiscal. No momento que permitiu, é bom dizer, a queda da taxa de juros em 2% em dias inéditos, o teto de gastos teve papel fundamental na recuperação da credibilidade da política fiscal do Brasil. E como nós vimos recentemente, com essa história do governo mudar o cálculo do teto de gastos, só isso já foi capaz  de manchar a confiança que os investidores tinham na política fiscal brasileira. Então, o teto de gastos, enquanto não houver substituto, é um elemento essencial da gestão macroeconômica do Brasil. É uma irresponsabilidade sem limite essa história que tanto Ciro Gomes quanto Lula estão prometendo, de acabar o teto de gastos. E mais, a presidente do PT, a Gleisi Hoffmann, fez pior. Ela disse que o PT é contra a âncora fiscal. Meu deus do céu! A âncora é a mesma ideia do navio. Os economistas tomaram emprestado da navegação a ideia da âncora. Quando a âncora é usada, o navio não sai do lugar. A ideia da âncora fiscal, monetária, cambial é para que a inflação oscile em torno de um ponto. Se você tira a âncora, é igual ao navio, ele vai ficar à deriva, a mercê das correntes marítimas e das marés. Eu acho que isso seria realmente uma ‘doidice'”, comentou o ex-ministro.

Sobre a condução da economia pelo ministro Paulo Guedes, Maílson da Nóbrega afirmou que entende que o colega de profissão cometeu alguns erros, inviabilizando o sonho dele de realizar uma ‘revolução liberal’ no Brasil e que, neste momento, ele aderiu ‘ de corpo e alma’ à campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro para tentar uma segunda chance a partir de 2023. “Na minha avaliação, o ministro está trabalhando para a reeleição do presidente, isso é correto do ponto de vista dele, é legítimo. Nada contra. O objetivo é ter uma segunda chance a partir de 2023 e, aí sim, mais experiente, mais ciente da necessidade de articulação e negociação política, fazer a revolução liberal que ele sempre sonhou”, pontuou Nóbrega.

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