Sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura critica subsídio a carros populares: ‘Não é o mais adequado’
Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, Pedro Rodrigues analisou o novo programa do governo, fez um alerta para a possível reoneração do diesel e recomendou que o governo incentive biocombustíveis e carros híbridos
O Ministério da Fazenda busca encontrar uma solução e garantir o desconto no preço dos automóveis, programa que foi anunciado nesta segunda-feira, 5. Neste sentido, o governo pode antecipar a reoneração dos impostos federais sobre o diesel, que estava prevista para janeiro de 2024, para viabilizar a redução do preço dos carros populares, caminhões e ônibus mais ecológicos. A proposta já foi sugerida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente Lula (PT). Para falar sobre estas medidas, que juntas afetam o preço combustível em incentivo à indústria automotiva, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Pedro Rodrigues, que criticou o subsídio aos veículos: Na minha opinião, é um programa que não é o mais adequado. Quando a gente mexe artificialmente em um mercado, isso pode causar problemas maiores no futuro. Por exemplo, os carros usados vão custar mais barato, depois a gente vai ter mais carros na frota do que deveriam ter, vamos endividar as pessoas. Em um momento que a gente está olhando pra responsabilidade ambiental e pra limpar a matriz energética, o governo está incentivando a compra de carros com motor a combustão”.
“O Brasil é um grande importador de diesel, e a gente viu como que o aumento de, às vezes, alguns centavos no diesel impacta principalmente os caminhoneiros, o que acaba impactando todo o setor logístico brasileiro, que é muito feito através do transporte rodoviário de cargas. Então, qualquer aumento no diesel, principalmente nesse momento que o governo está tentando controlar a inflação, tentando resolver esse problema fiscal, impacta todos os alimentos, todos os produtos da nossa economia. Não me parece ser um lugar, talvez, mais correto pro governo achar esse recurso pra fazer esse tipo de programa de financiamento de carros populares”, declarou.
Entre as exigências para a redução no preço de ônibus e caminhões está a apresentação de veículos com mais de 20 anos de uso. Neste sentido, o especialista em óleo e gás elogiou o potencial da medida em tirar automóveis muito poluentes de circulação. Entretanto, ele pondera que a medida pode ser prejudicial para o mercado: “A frota de caminhões brasileira é muito antiga, muito poluente e muito ineficiente. Na verdade, isso começou com um programa que a ex-presidente Dilma fez de incentivar, mais ou menos como está acontecendo agora com os carros populares, a compra de novos caminhões. Porém, naquele momento, ela não fez esse tipo de medida de tirar os caminhões antigos de circulação. Isso criou um descompasso enorme entre o número de caminhões e a demanda por carga (…) Como eu coloquei, sempre que você mexe artificialmente no mercado, às vezes o tiro acaba saindo pela culatra e o custo acaba sendo mais alto do que o que a gente está pensando nesse momento”.
A respeito de outras alternativas de mobilidade que atendam as demandas pela transição energética, Pedro Rodrigues defendeu um maior incentivo aos biocombustíveis e carros híbridos: “Falar de carro elétrico no Brasil é sempre muito complicado. Eu digo que o Brasil é um país com uma infraestrutura muito debilitada, a infraestrutura elétrica. Você imagina quanto custaria colocar carregadores elétricos para atender uma demanda forte de carros elétricos aqui no nosso país. Sem falar que os carros elétricos hoje são muito importantes para países como a China, cidades como Pequim, em que você realmente não consegue respirar lá dentro da cidade em razão da emissão de particulados no ar e por isso os carros elétricos são importantes. Eu acho que o Brasil deveria, na verdade, incentivar o uso de combustíveis renováveis que o Brasil já tem, como por exemplo é o caso do etanol. A gente já tem uma mistura de etanol na gasolina muito grande, o que faz com que cidades como São Paulo, por exemplo, tenham uma qualidade do ar muito melhor do que Pequim, Xangai e outras cidades pelo mundo”.
“A gente incentivar o veículo híbrido etanol, incentivar o carro a etanol, incentivar o biogás para botar em ônibus e caminhões dentro das cidades, me parece fazer muito mais sentido do que o carro elétrico, no nosso caso brasileiro. A transição energética vai depender muito de matrizes locais. Eu acho que não vai existir uma bala de prata. O que funciona na Alemanha, por exemplo, ou na China, não necessariamente vai funcionar no Brasil. E o Brasil já tem uma liderança muito grande quando a gente fala de biocombustíveis. Isso sim, na minha opinião, deveria ser cada vez mais incentivado pelo governo”, argumentou. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.