‘Tendência é preocupante e possibilidade de colapso nacional é real’, afirma Claudio Lottenberg

Presidente do Instituto Coalizão Saúde e do Conselho do Hospital Albert Einstein vê única saída no avanço da vacinação

  • Por Jovem Pan
  • 03/03/2021 08h34 - Atualizado em 03/03/2021 10h23
REUTERS/Stephane Mahe Profissional da saúde Ele questionou os entraves do setor público e criticou a falta de aval para que o setor privado vá atrás de vacinas

O presidente do Instituto Coalizão Saúde e do Conselho do Hospital Albert Einstein, Claudio Lottenberg, acredita que os números da pandemia estão claros e indicam um colapso geral próximo. “Estamos observando um incremento de média móvel, do número de casos, uma taxa de ocupação dos leitos de mais de 80% em cerca de 18 estados. Isso reflete uma tendência absolutamente preocupante porque o sistema, em termos de suporte, não é simplesmente a disponibilização de leitos ou infraestrutura de natureza material. É também incremento de capital humano. A possiblidade de colapso é real.”

Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, Lottenberg explicou que mesmo o Estado de São Paulo, que tem uma infraestrutura mais robusta, está apresentando níveis preocupantes tanto nos hospitais privados quanto públicos. Ele defendeu a tomada de medidas mais rígidas, mesmo que não impostas pelos governos. “Se não tomarmos medidas, não quero nem entrar na questão do poder público, precisamos nos impor um ‘auto lockdown‘ no sentido de evitar que essa transmissibilidade continue como está acontecendo. As cepas novas são ainda mais transmissíveis, não é tão simples separar na geografia, e a tendência é que o quadro se agrave. Ninguém sabe responder exatamente se são ou não mais resistentes às vacinas.”

Para Claudio Lottenberg, a única saída possível para essa situação é a vacina. “Se repetem os fatos, não há organização. Para o paciente que procura o hospital, a infraestrutura é UTI. E temos dificuldades, já tinha sido observado. O grande caminho é o da vacinação e temos menos que 3% da população vacinada, grande parte só recebeu a primeira dose. Temos falta de movimentação, aquilo que chamo de política da diplomacia da vacina. Precisamos trabalhar mais para garantir o aporte”, explica. Ele deu exemplo de Israel, que já vacinou grande parte da população, e lembrou que o Brasil tem uma capacidade de imunização que poucos países tem. “Somos diferenciados no limite mais alto, temos 36 mil postos aptos para participar desse processo. Mas pouco se faz.”

Ele questionou os entraves do setor público e criticou a falta de aval para que o setor privado vá atrás de vacinas. “Se nega o acesso do setor privado [na aquisição de vacinas], que tem mais flexibilidade no sentido de comprar. Todas as amarras do setor público são claras. Não é nem questão de transparência, o processo é mais lente. O governo federal deveria comprar o desafio da vacinação para acelerar o processo. Enquanto isso, impor um lockdown rígido, auto comportamental e, se necessário, até mesmo por ações e determinações das estruturas de governo.” Lottenberg lembrou que 25% dos brasileiros já são atendidos pelo setor privado e a vacinação dessas pessoas já faria uma grande contribuição no sentido de uma imunidade de rebanho.

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