Trump terá que anular votos em muitos estados para se reeleger, analisa especialista
A disputa segue acirrada e Joe Biden segue na frente, mas isso ainda pode mudar; entenda os cenários
A apuração de votos nos Estados Unidos segue a todo vapor e o país vive uma das disputas a presidência mais acirradas da história. O resultado ainda é incerto e pode haver uma reviravolta, mas Joe Biden segue com uma ligeira vantagem. Em entrevista ao Jornal da Manhã deste sábado, 7, o mestre em Direito Internacional pela American University e professor de Relações Internacionais da FMU, Manuel Furriela, explicou detalhes do que deve acontecer nos próximos dias e fez uma análise do desenrolar dessa eleição histórica para os americanos.
“Se a gente analisasse o cenário até antes da pandemia, finalzinho de fevereiro, começo de março, tudo caminhava a favor de Donald Trump, com grande vantagem. O cenário econômico nos Estados Unidos era muito favorável, o desemprego baixíssimo, menos de 4%, que é considerado desemprego inexistente. Com a pandemia, veio desafios econômicos para o mundo inteiro, então foi ficando complicado”, comentou Furriela. “Lá para agosto o cenário foi ficando favorável ao democrata e Joe Biden se consolidou. A vantagem que ele tinha parecia estar dando a sua vitória como certa, mas nas últimas semanas de campanha antes do pleito, principalmente depois do segundo debate, o cenário começou a melhorar para Donald Trump. Isso indicava que a disputa seria acirrada, mas não tão acirrada como tem sido.”
Para o especialista, ficou claro que seria uma eleição complicada quando Trump conseguiu ultrapassar Biden na Flórida, que é considerado um Estado chave por possuir uma quantidade grande de delegados. Como em alguns estados a diferença de votos foi muito pequena, caso da Geórgia, já foi solicitada uma recontagem. “É um cenário muito parecido com 2000, quando a Flórida parecia do Al Gore e acabou sendo do George Bush”, pontuou o internacionalista.
Quem deve vencer?
Furriela disse que ainda não há uma previsão devido a recontagem de votos em dois estados e por conta da “uma ordem da Suprema Corte que determinou que os votos na Pensilvânia que chegaram após o dia da eleição sejam separados, o que pode indicar que tenha uma chance do Donald Trump anular os votos posteriores”. “Se ele anular, provavelmente a vitória seja dele. Se esses votos forem contabilizados e seguir a tendência de favorecer Joe Biden, a presidência será dele”, comentou.
Com um cenário incerto, o especialista acredita que será difícil ter uma decisão antes de pelo menos segunda-feira, 9. “Acho improvável que a gente tenha hoje a indicação de quem vai sair vencedor. Alguns já preveem que se a disputa for parar no Judiciário, nos estados que estão recontando os votos, a eleição vai estender muito mais tempo. A tendência maior é a favor do Joe Bien. Donald Trump vai ter que reverter o resultado via recontagem ou via judicial em muitos estados, caso ele consiga anular votos.”
Essa é a primeira vez que uma contagem de votos abre tanta margem para análises. “Por um lado, você teve um comparecimento recorde de eleitores, lá a votação não é obrigatória, isso é um bom cenário. Por outro lado, com um grande número de votos por votação antecipada ou pelo correio, gerando um volume inédito nos Estados Unidos, traz uma incerteza na judicialização. O ponto é que Donald Trump tem que reverter o resultado em vários estados e em cenários muitos diferentes, então a chance dele sair vencedor se torna cada vez mais reduzida”, reafirma.
Desafios do novo presidente
Independente de quem for eleito, o maior desafio do novo presidente, na visão de Furriela será de unificar os Estados Unidos, que apresenta uma grande polarização. “Os republicanos e democratas sempre disputaram de forma acirrada a presidência, tanto é que eles se alternam no poder em mais de 200 anos, mas neste ano os discursos de como governar os estados foram muito diferentes, quem vier a ser eleito terá dificuldade de unificar o país e isso vai se refletir na relação com os Estados Unidos com o Brasil”, declarou.
Caso o democrata vença, ele possivelmente terá uma demanda maior em questões ambientais e isso afeta diretamente a relação com o Brasil. “O Biden é um candidato muito ligado a questões ambientais, em desenvolvimento sustentável, em economia limpa, são muitas bandeiras ligadas ao movimento ambientalista e isso vai se refletir em cobranças ao Brasil. A relação com Trump a gente já conhece e não deve mudar muito. Já as relações econômicas, não terá muitas mudanças em um primeiro momento”, acredita o especialista.
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