Voto impresso é ‘solução para problema que não existe’, diz Luís Roberto Barroso

Para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a proposta representa um ‘retrocesso’ e vai tornar a vida ‘bem pior’; ministro teme que milhares de candidatos derrotados judicializem os resultados das eleições

  • Por Jovem Pan
  • 10/06/2021 06h32 - Atualizado em 10/06/2021 09h24
Fellipe Sampaio/SCO/STF Luís Roberto Barroso Ministro esteve no plenário da Câmara dos Deputados em um debate sobre propostas de emenda à Constituição que tratam de temas eleitorais

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, disse nesta quarta-feira, 9, que “a vida vai ficar bem pior” no Brasil com a eventual adoção do voto impresso. O ministro esteve no plenário da Câmara dos Deputados em um debate sobre propostas de emenda à Constituição que tratam de temas eleitorais. Barroso afirmou que o sistema atual é “seguro, transparente e auditável”, chamou a proposta de mudança de “solução para um problema que não existe” e falou em “retrocesso” e “volta ao passado”. “Nós conseguimos acabar com a manipulação humana nos momentos críticos que são o transporte, o armazenamento e contagem desses votos impressos. Sempre lembrando que essa é uma decisão política e, portanto, se o Congresso Nacional aprovar e o Supremo validar, vai ter voto impresso, mas vai piorar. A vida vai ficar bem pior, a vida vai ficar parecida com o que era antes, creiam em mim”, disse. O ministro afirma que, se o voto impresso for aprovado, o TSE vai se empenhar para efetuar a mudança, mas alerta que haverá dificuldades, como a licitação para compra dos novos equipamentos. Barroso estima que a troca de sistema custará R$ 2 bilhões e diz que o dinheiro “faz bastante diferença” para os cofres públicos.

“Só gostaria de lembrar que nós não realizamos o Censo por falta de dinheiro e que as Forças Armadas não puderam ajudar em uma operação que eu mesmo determinei de proteger comunidades indígenas e garimpeiros em um conflito porque não tinha recursos. Então talvez essa não seja a melhor alocação de recursos no momento”, ressaltou, afirmando ainda que a sua maior preocupação é com a possibilidade de que milhares de candidatos derrotados judicializem os resultados das eleições. “Me pergunto o seguinte: se o próximo candidato derrotado à presidência pedir para votar, vamos recontar 150 milhões de votos manualmente? Essa é a alternativa de modernidade? O presidente Fernando Henrique foi reeleito, é do PSDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é do Partido dos Trabalhadores, a presidente Dilma Rousseff foi eleita e reeleita, é do Partido dos Trabalhadores. O presidente Jair Bolsonaro foi eleito e é do PSL. Que raio de sistema fraudulento que é esse que permite alternância de poder como tem ocorrido no Brasil?”

Autora da PEC do voto impresso, a deputada Bia Kicis (PSL), rebateu as críticas de Barroso, negou que haja “retrocesso” e citou o sistema eleitoral da Argentina. “Muitas pessoas, das mais simples às mais cultas, pensam que queremos a volta da cédula de papel. Ministro, queremos aprimorar o sistema, como o sistema argentino, que é de  terceira geração. As urnas da Argentina elas contam com a urna eletrônica, a máquina de votação e também a impressão para que a se possa conferir o resultado”, disse. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) está sendo discutida em uma comissão especial da Câmara dos Deputados. Para que a mudança aconteça a tempo da próxima eleição, o texto precisa ser aprovado no Congresso até outubro deste ano. Pela proposta, as urnas eletrônicas continuariam sendo usadas, mas, após cada voto, seria impresso um comprovante. Esses papéis ficariam armazenados em um recipiente lacrado e não iriam para as mãos do eleitor, mas poderiam ser usados para auditoria, em caso de questionamentos.

*Com informações do repórter Vitor Brown

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