‘É como se Fifa usasse VAR em um jogo de 2010’, diz Rubens Figueiredo sobre anulação de processos de Lula
Cientista político lembra que elegibilidade de Lula e desgaste de Sergio Moro traz para previsões das eleições de 2022 um cenário novamente polarizado
Entrevistado pelo Jornal Jovem Pan nesta terça-feira, 9, sobre o cenário atual envolvendo o Supremo Tribunal Federal (STF), a anulação de processos contra o ex-presidente Lula e o julgamento da suspeição do ex-juiz Sergio Moro, o cientista político e fundador do Espaço Democrático, Rubens Figueiredo, afirmou que duas questões políticas precisam ser analisadas de perto neste momento: a percepção que a sociedade tem atualmente da Justiça brasileira e como o cenário eleitoral vai ser visto com a elegibilidade do petista e o julgamento de parcialidade do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro em 2022. Para o cientista político, o que foi assistido nos últimos dois dias pela sociedade, principalmente em relação à inesperada decisão do ministro Edson Fachin, pode ser considerado como uma “verdadeira lambança” por parte do sistema judiciário brasileiro. “O julgamento começou em 2014 e 7 anos depois se decide que não era o fórum adequado, a vara adequada para se defender aquele julgamento que galvanizou a atenção do Brasil inteiro? É como se a Fifa quisesse colocar um VAR em um jogo da Copa de 2010. É uma coisa completamente estapafúrdia que a sociedade não entende”, analisa.
Para o cientista político, os desencontros do STF são “estímulos erráticos” dados à opinião pública que fazem com que as pessoas visualizem o poder judiciário como “bagunça”. “Isso cria um clima de instabilidade que é péssimo para qualquer país do mundo e pior ainda para o Brasil no momento que nós vivemos”, afirma. O especialista garante que há muita água para rolar sob a ponte das eleições de 2022, mas acredita que a elegibilidade e Lula coloca no jogo aquele que tem mais chances de enfrentar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. “Você tem uma sociedade muito polarizada na qual um discurso de centro é muito difícil de entusiasmar o eleitorado. Uma coisa é você falar ‘sem mi mi mi, vamos armar a sociedade, fora petistas, querem acabar com a família’ de um lado, e do outro lado ‘não, a gente se preocupa com os pobres, vamos voltar a ser feliz, voltar a consumir’ e no meio alguém falando mais ou menos assim ‘ó, vamos fazer reforma, para fazer reforma precisamos ter uma ampla coalizão do governo, porque no Brasil o sistema político é um sistema de coalizão’, quer dizer, esse tipo de discurso em uma sociedade em que primo briga com prima no grupo de Whatsapp da família, é muito difícil de empolgar”, explica. Para ele, porém, há nos dois extremos pontos de desgaste dos possíveis candidatos.
“Hoje o Bolsonaro perdeu aquela âncora que ele tinha, de ser um governo com um candidato que se propõe a ser anticorrupção, a pauta liberal com essa intervenção recente está muito comprometida e sobrou a pauta dos costumes, que também não empolga nessa situação em que as pessoas estão vivendo da boca a boca, tem que vender o almoço para comprar o jantar, então é um tipo de situação complicada. Agora, a rejeição ao que Lula e ao que o PT fez no país é tão grande que vai gerar uma polarização onde as pessoas vão pensar assim: ruim com ele [Bolsonaro], pior sem ele. E realmente essa não é uma boa alternativa, não é uma escolha que seja saudável para uma sociedade avançar”, garantiu. Figueiredo lembrou que a presença de Sergio Moro nas pesquisas tem sido desgastada ao longo do tempo após ele ser atingido por todas as direções, perdendo até mesmo a simpatia da classe política.
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