“Cresci cercada por mulheres fortes e homens fracos”, diz Karol Conka

  • Por Jovem Pan
  • 22/11/2018 12h13 - Atualizado em 22/11/2018 14h25
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Johnny Drum - Jovem Pan Primeiro show com novo álbum será no dia 1 de dezembro, na Vila Leopoldina

Karol Conka, rapper negra e feminista, está lançando um novo álbum, “Ambulante”. As novas músicas, assim como aquelas que a levaram ao sucesso e a cantar na abertura dos jogos olímpicos de 2016, tem inspiração na sua vida e experiências. A rapper foi criada por mulheres e fala abertamente sobre o papel secundário que homens tiveram na sua vida.

“Eu cresci em um ambiente dominado por mulheres, onde elas faziam tudo acontecer e os homens eram mais fracos, na minha família. Quando esse tema [gênero] tomou uma proporção maior nas mesas de debate e tal, eu achei incrível, foi um passo à frente. Era algo que só escutávamos dentro do hip hop”, contou.

Um dos seus grandes sucessos, “Tombei”, em parceria com Tropkillaz, já diz muito sobre quem é e de onde vem a artista elogiada por Elza Soares. “Comecei a escutar Elza Soares na casa da minha mãe e da minha avó, elas tinham uma história parecida sobre violência doméstica. Essa ligação da Elza comigo e com outras famílias brasileiras é muito forte”, disse.

E por falar em Hip Hop e mulheres fortes, Conka ressalta que ainda há muito machismo na cena musical. Ela explica que sempre soube, desde os 16 anos, quando começou a fazer rap, que para subir nos palcos “tinha que ser namorada do DJ ou ser a Karol Conka”, o que ela descobriu que queria dizer “cantar bem”. Onde vai, Conka é percebida. Às vezes pela vivência de mulher negra, como quando foi expulsa de um restaurante em Portugal por ser preta, mas hoje, na maior parte das ocasiões, por ser uma artista respeitada e dona de si.

A rapper não tem receio de falar sobre o próprio corpo, sobre seus problemas e sua vida. Uma das novas músicas, por exemplo, fala sobre protagonismo feminino durante o sexo. A letra de “Dominatrix” pode ser indigesta para aqueles que não gostam de falar sobre sexo abertamente. “O sexo sempre esteve presente nas minhas falas desde quando eu era virgem, é importante conhecer sobre isso. Eu acho insuportável ver que há adultos que fazem sexo, mas ficam horrorizados de falar de sexo” afirmou.

Nem tudo são flores

A cantora veio a público, em outros momentos, para falar sobre depressão. Ela conta que lutou por três anos contra a doença e que chegou a adiar trabalhos porque não conseguia sair de casa. “foi pós-parto, com 20 anos. Procurei estudar e entender o que estava acontecendo comigo”. Hoje, ela dá dicas para quem conhece pessoas que sofram do mesmo mal, “tenham empatia e escutem essas pessoas. É o que elas precisam”.

Além disso, o novo álbum da rapper nascida e criada no Boqueirão, na região sudoeste de Curitiba, foi produzido por um amigo da artista, Péricles Martins, mais conhecido como Boss in Drama. Martins, a princípio, não queria produzir o álbum. De acordo com a cantora, ele não tinha certeza se seria capaz de produzi-la.

“O que o prendia, nessa ideia de produzir meu álbum, era algo muito triste. Ele achava que seria criticado por produzir meu disco por que era branco e gay”, revelou. No fim, deu tudo certo e o álbum saiu fazendo sucesso com músicas como “Kaça”, “Dominatrix” e “Saudade”, esta última, inclusive, foi criada em pouco mais de dois minutos após algumas taças de vinho. “bateu saudade de um ex. Fui cantando no microfone, chorei, tinha tomado uns vinhos, mas eu não quero o boy de volta não”, brinca.

O preconceito, dessa vez o racismo, também paralisou outro amigo de Conka, o seu DJ, Hadji, um homem negro e tatuado que se recusa a dirigir a Mercedes de Conka por medo de ser parado pela Polícia. O seu medo é justificado pelos relatos de negros que foram abordados por policiais ao dirigirem carros caros sob suspeita de terem roubado os veículos.

Vencidas as pedras no caminho, Karol Conka estreia seu novo álbum em show no dia 1 de dezembro, na Arca, na Vila Leopoldina. O evento será gratuito.

Veja a entrevista completa:

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