Ana Paula Henkel: Brasil vive tentativa insistente e covarde de demonização do combate ao crime
Polêmicas em torno da operação que deixou 25 mortos no Jacarezinho foi tema de debate entre comentaristas do programa ‘Os Pingos Nos Is’
O Ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), pautou para o próximo dia 21 o julgamento de um recurso do PSB sobre a elaboração de um plano de redução da alegada letalidade policial. O ministro colocou o tema em discussão no Plenário virtual da Corte após uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro deixar pelo menos 25 pessoas mortas no Jacarezinho, Zona Norte da capital fluminense, nesta quinta-feira, 6. O PSB pede ao Supremo que determine ao governo do Rio a elaboração de um plano para reduzir mortes em ações policiais e suspender o sigilo de todos os protocolos de atuação policial no Estado. A legenda também busca a prioridade de tramitação das investigações do Ministério Público em casos de vítimas adolescentes. O Plenário do STF determinou ainda no ano passado a suspensão de operações policiais em favelas do Rio durante a pandemia, referendando uma liminar emitida por Fachin em junho sobre o assunto.
Na ocasião, a decisão fixou que as incursões só poderiam ser realizadas em casos excepcionais, com acompanhamento do Ministério Público. Ainda na quinta-feira, o governador o RJ, Cláudio Castro, divulgou nota afirmando que a ação foi pautada e orientada por um longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação que demorou dez meses para ser concluído. A Polícia Civil do Rio afirmou que respeitou todas as exigências do STF e criticou o “ativismo judicial”. O subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, delegado Rodrigo Oliveira, foi um dos que falou sobre o assunto. “De um tempo para cá, por conta de algumas decisões e um ativismo judicial que se viu muito latente na discussão social, fomos de alguma forma impedidos ou foi dificultada a ação da polícia em algumas localidades. O resultado disso nada mais é que o fortalecimento do tráfico. Quanto menos você combate, quanto menos você se faz presente, o tráfico obviamente vai ganhando cada vez mais poder”, declarou.
A comentarista do programa “Os Pingos Nos Is”, da Jovem Pan, Ana Paula Henkel, prestou condolências aos familiares e amigos do inspetor André Leonardo de Mello Frias, policial que foi morto na operação. “Infelizmente esse policial teve a vida ceifada em mais uma operação para combater o terrorismo no Brasil. Acho que a palavra é essa: terrorismo”, afirmou. Ana Paula comparou as imagens da população pobre sendo usada como escudo humano com ações cometidas pelo grupo terrorista Hamas e lembrou que as armas apreendidas na operação não fazem parte de listas de colecionadores, são caras e raras. “A gente vê que um lado apenas está armado até os dentes e de armas até de poderio militar e esse lado é o lado dos traficantes, o lado dos cartéis que dominam as comunidades e as favelas”, disse.
Sobre a validade da operação, ela afirmou não ver polêmica em relação ao período no qual a inteligência da polícia trabalhou para identificar os suspeitos e criticou o posicionamento de algumas partes da imprensa que noticiaram o fato como se a polícia tivesse decidido entrar atirando a esmo no Jacarezinho. “Uma coisa que a gente tem que tomar muito cuidado no Brasil, que aconteceu ao longo de todo ano de 2020 aqui nos Estados Unidos, é a tentativa pesada, insistente e covarde da demonização do combate ao crime, da demonização da polícia. O problema é que esse tipo de narrativa, de falácia, de mentira, muito aí encapsulada em projetos ideológicos e projetos políticos, lá na frente quem sofre com isso, com a demonização da polícia, são as comunidades mais pobres, são as comunidades negras”, explica. Segundo ela, os policiais deixam de atender aos chamados de populações mais pobres quando ficam enquadrados sob esse estigma e uma decisão como a do STF faz com que os policiais se sintam incapazes de resolver problemas como violência doméstica ou recuperação de veículos roubados dentro das favelas.
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