Polícia Civil critica ‘ativismo judicial’ e diz que operação no Rio foi ‘legítima do início ao fim’

De acordo com um dos delegados responsáveis, a corporação ‘não entra em comunidades para praticar execuções, mas há vezes em que é preciso revidar’; confronto com traficantes deixou 25 mortos

  • Por Jovem Pan
  • 06/05/2021 18h19 - Atualizado em 06/05/2021 19h13
Reginaldo Pinenta/Agência O Dia/Estadão Conteúdo Ao lado do blindado, policial se esgueira sobre parapeito na favela e aponta o seu fuzil Polícia Civil afirmou que todos os protocolos estabelecidos pelo STF foram cumpridos durante a operação

Durante um confronto entre policiais e traficantes, 25 pessoas morreram nesta quinta-feira, 6, em uma operação da Polícia Civil contra o tráfico de drogas no bairro do Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro. Segundo a Secretaria de Polícia Civil do Estado, a ação apenas se concretizou após uma série de investigações que confirmaram que crianças e adolescentes da região estavam sendo aliciados por traficantes para integrar a facção que domina o território. Ao todo, as autoridades apontam as mortes de um policial civil e 24 suspeitos, que foram alvejados. Em entrevista coletiva nesta tarde, a Polícia Civil afirmou que a Operação Exceptis é completamente legal.

“A Polícia Civil não entra em comunidade nenhuma para praticar execuções, mas às vezes precisamos revidar. A Polícia Civil entra para cumprir mandados de prisão deferidos pela Justiça. Sendo assim, a operação deflagrada foi baseada em um inquérito judicial e ocorreu completamente dentro da legalidade. A prova cabal de que não entramos para executar é que, logo no início da incursão, perdemos um de nossos policiais na troca de tiros. Não houve execução, mas houve a necessidade de revidar uma injusta agressão. Portanto, a ação é legítima do início ao fim”, disse o delegado Roberto Cardoso, titular do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), em entrevista coletiva.

Delegado afirma que protocolos estabelecidos pelo STF foram cumpridos

Além disso, o subsecretário Operacional da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rodrigo Oliveira, usou a entrevista para esclarecer a legalidade da operação, afirmando que foram cumpridos todos os protocolos estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “A operação faz parte de um inquérito da delegacia de proteção à criança e ao adolescente que, na sexta-feira passada, emitiu 21 mandados de prisão contra criminosos situados no bairro de Jacarezinho. Diante do tripé da inteligência, investigação e ação, a Polícia Civil deflagrou a operação que teve início na manhã de hoje. Deixo muito claro que todos os protocolos exigidos pelo STF foram cumpridos”, disse. “Lamentavelmente ocorreu muito confronto na comunidade. Não há de se comemorar este resultado devido à quantidade de mortes. Da mesma forma, que não é possível que nos confortem pela morte de nosso policial, afinal ele estava ali em defesa da sociedade, cumprindo seu dever, e acabou tornando-se uma vítima fatal”, concluiu.

Em 2020, o ministro do STF Edson Fachin concedeu liminar que restringiu as operações policiais no Rio de Janeiro a casos “absolutamente excepcionais” enquanto durar a pandemia da Covid-19. Sem citar nomes ou entidades, o delegado Oliveira criticou o “ativismo judicial”, por ir contra o trabalho da polícia. “Não sei se as grandes operações dão resultado. O que eu sei é que a falta de operação dá um péssimo resultado”, argumentou. “Pseudo entendidos de segurança pública criaram uma lógica de que, quanto mais inteligência, menor o confronto. Isso não funciona assim. Quanto mais precisa a informação, maior é a resistência do tráfico (…) A Polícia Civil não age na emoção. A operação foi muito planejada, com todos os protocolos e em cima de 10 meses de investigação”, disse Oliveira.

O delegado Felipe Curi, chefe do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), afirmou que os criminosos também eram acusados de sequestro de composição de três da Supervia, sequestro relâmpago, mortes e sumiço de corpos feitos pelo tribunal do tráfico. Além disso, justificou que a ida da polícia à favela se deu para “garantir o direito das pessoas que estavam sob a ditadura do tráfico”. De acordo com a corporação, a investigação deve continuar e outras operações serão feitas para evitar que menores sejam cooptados pela venda de drogas.

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