Arthur Weintraub nega gabinete paralelo e diz que apenas repassava pesquisas médicas a Bolsonaro

Ex-assessor presidencial acusado pela CPI da Covid-19 foi entrevistado no programa ‘Os Pingos Nos Is’ desta segunda-feira, 7

  • Por Jovem Pan
  • 07/06/2021 20h33
Os Pingos Nos Is/YouTube/Reprodução de vídeo Arthur Weintraub dando entrevista para o programa Os Pingos Nos Is Arthur Weintraub deu entrevista ao programa 'Os Pingos Nos Is'

Alvo de acusações de opositores de Jair Bolsonaro durante a CPI da Covid-19 por supostamente integrar um “gabinete paralelo” da Saúde, o ex-assessor do presidente, Arthur Weintraub, foi entrevistado pelo programa “Os Pingos Nos Is”, da Jovem Pan, nesta segunda-feira, 7. O irmão do ex-ministro da Educação afirmou que, por ter um pós-doutorado na área de neurologia, ainda no começo da pandemia o presidente solicitou que ele passasse detalhes de pesquisas que analisavam o desenvolvimento e as formas de tratar a pandemia no mundo. “Levei ao presidente estudos e pré-estudos, porque em medicina, por exemplo, existe evidência C, evidência B, evidência A. Quando houve a pandemia do H1N1, para usar o Tamiflu, acho que o Tamiflu era evidência C ou B, que era menos do que esse remédio da malária. Então, o que eu recebia de informação e alguns médicos me passavam, cientistas e pesquisadores, eu resumia e passava ao presidente. As informações que obtive. Nada a Ministério da Saúde ou a ministro da Saúde”, alegou, lembrando que naquele momento as informações que existiam eram de que “havia uma possibilidade de tratamento”.

O ex-assessor, que hoje ocupa um cargo de diretor na Organização dos Estados Americanos, lembrou que se desvinculou de qualquer assunto relativo à pandemia no Brasil desde agosto de 2020, quando o irmão dele, Abraham Weintraub, saiu do cargo na Educação. Ele disse que não recebe um centavo sequer do governo federal e afirmou que as acusações por parte dos senadores surgiram “de repente”. “O que eu vi foi o trabalho que eu tive assessorando o presidente, passando a ele informações que naquele momento eram importantes. O presidente estava preocupado, ele estava preocupado com a situação, a informação é de que poderia morrer quatro milhões de brasileiros, e eu na minha atribuição de assessor levava a ele os dados. Como pode ter sido a coisa errada assessorar o presidente levando informações a ele de estudos, informação do que estava sendo aplicado na ponta, nos hospitais, estatísticas dos tratamentos e tentando ajudar a reduzir o máximo possível o número de mortes, porque o que existia na época era ‘passou mal? só procure o hospital quando estiver com falta de ar’”, recordou.

Weintraub afirmou que não passou a Bolsonaro apenas as informações positivas sobre o tratamento da doença com hidroxicloriquina, e sim todos os estudos disponíveis no momento. “Chegou informação de que não funcionava, chegou informação até em determinado momento que matava, em um estudo que ficou famoso no Norte do Brasil, e eu passava a ele”, narrou, explicando que Bolsonaro chegava a grifar uma série de partes dos resumos para tirar dúvidas com ele. O ex-assessor também negou que fizesse qualquer tipo de filtro entre médicos e o presidente. “Eu nunca coordenei, nunca tive represamento de quem passa por mim e depois chega ao presidente. Esses médicos que eu conversei, que foram chegando a mim. Eu passava diretamente ao presidente, os contatos que ele queria estavam com ele. Iam direto a ele.” Segundo ele, as decisões eram tomadas pelo presidente com seus ministros da Saúde.

Arthur lembrou que a pandemia é um momento de emergência e afirmou que informações são trocadas na tentativa de salvar vidas. Ele criticou o cerceamento da liberdade de médicos falarem sobre tratamentos possíveis para o vírus e disse que há conotações políticas envolvendo a vida de milhões de pessoas. “Isso foi o que eu defendi também, a liberdade do médico em prescrever e a liberdade do paciente de aceitar o tratamento.” Por fazer parte da OEA, o ex-assessor presidencial se privou de expor algumas opiniões sobre o que ocorre no Brasil, mas deu como exemplo de conotações políticas o debate sobre o uso da hidroxicloroquina. “Esse cerceamento, de você, como por exemplo na internet, não pode sequer falar o nome do remédio, senão os algoritmos te bloqueiam, você não pode interagir, não pode iniciar discussões que automaticamente é bloqueado, isso nunca existiu na história, você não pode sequer mencionar porque se não acaba a discussão”, criticou.

“Me preocupa muito você não ter a possibilidade de falar, às vezes, você ter uma censura de não comentar o que foi feito, comentar qualquer coisa que não seja o que te deixam falar, o que eles te deixam dizer. É um momento de dificuldade de liberdade de expressão”, continuou. Ele citou a “destruição de reputações” e um “movimento de mídia” como alguns dos motivos para as acusações feitas contra ele. “Quem assiste [à CPI] acha que eu estava fazendo algo errado passando informação ao presidente sobre o que estava sendo estudado no momento. É nitidamente um movimento, movimento mundial de cerceamento de liberdades, cerceamento de você poder falar as coisas distorção da realidade completa, é uma distorção completa, uma distopia, e muito bem documentado. Basta ser racional, ser razoável, para ver o que estão fazendo”, afirmou.

Confira o programa “Os Pingos Nos Is” desta segunda-feira, 7, na íntegra:

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