Bolsonaro volta atrás e diz que vai acusar empresas, e não países, que compraram madeira ilegal
Presidente atribuiu os ataques que vem sofrendo internacionalmente a ‘um grande jogo econômico’, com o objetivo de atingir o Brasil por ser ‘uma potência no agronegócio’
Após dizer que revelaria na noite desta quinta-feira, 19, a lista de países que compraram madeira extraída de forma ilegal da Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em transmissão ao vivo feita pelas redes sociais, que acusará as empresas que estão cometendo os crimes, e não as nações. “Temos os nomes das empresas, a gente não vai acusar o país A, B ou C de estar cometendo um crime, mas a empresa que fica no país sim”, declarou Bolsonaro. Ele não respondeu qual seria o montante do material importado ilegalmente, apenas afirmou que “é muito superior ao permitido extrair em reserva legal”. Nesta terça-feira, 17, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou em suas redes sociais supostas provas de que sete países da Europa importaram a madeira ilegalmente. A imagem divulgada mostra pedaços com inscrições em inglês dos nomes do Reino Unido, Holanda, Bélgica, Dinamarca, França, Portugal e Itália.
Segundo o presidente, esse rastreamento está sendo feito pela Polícia Federal (PF) há poucos meses e, em breve, a Marinha também será envolvida na operação, já que a madeira sai do Brasil por transporte aquaviário. “Só nesse contexto, a gente vê que não sai tudo da área de manejo. Vai entrar em cena a Marinha do Brasil porque toda madeira ilegal sai por via aquaviária. Dá pra fazer barreiras e conferir o deslocamento dessa madeira: a que for legal passa”, disse. O delegado Saraiva, que participou da live ao lado de Bolsonaro e do ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, explicou que o método para descobrir a origem da madeira usa três tecnologias diferentes: isótopos estáveis, uma espécie de DNA que mostra a proveniência geográfica de produtos, além do DNA e assinatura química da madeira.
Bolsonaro, que vem sofrendo críticas internacionais pelos altos índices de desmatamento e queimadas na Amazônia, disse que, assim que o Brasil chegar a um “bom termo nessa questão”, o desmatamento vai diminuir drasticamente. “É o que queremos”. Porém, atribuiu os ataques a “um grande jogo econômico”, com o objetivo de atingir o Brasil por ser “uma potência no agronegócio”. “Tem um projeto no Reino Unido que torna ilegal o uso de commodities por parte de empresas que importem o material de países que realizam o desmatamento. Eles [outros países] querem diminuir a nossa concorrência, facilitando o comércio externo e até mesmo interno de commodities”, afirmou, pontuando que a França é um concorrente do Brasil e, por isso, “dificulta o avanço no acordo entre a Europa e o Mercosul“. O ministro André Mendonça, por sua vez, disse que “nunca se apreendeu tanta madeira quanto no governo Bolsonaro”. “A Amazônia é um continente e há várias formas de organizar esse crime. Quem paga o pato é o extrator no meio da mata, e quem está lucrando é quem está com a madeira em outros países”, declarou. Além disso, ele ressaltou que há um lucro enorme em cima de “um produto valiosíssimo”. “Eles colocam um preço vil.”
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