Governo aposta em produção nacional de vacinas e Bolsonaro diz que ‘defesa da cloroquina’ está passando
Presidente quer investir em imunizações da Rússia e da AstraZeneca, cujos testes foram suspensos, e mostrou resistência à CoronaVac, fabricada em São Paulo
O governo brasileiro aposta fortemente na produção nacional de vacinas, e Jair Bolsonaro está convencido que os “tempos de defesa” da cloroquina estão passando. Estes pontos foram debatidos nesta quarta-feira, 9, durante uma reunião no Palácio do Planalto, segundo informou um ministro ao comentarista José Maria Trindade, do programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan. O encontro contou com a participação do presidente e outras autoridades, como o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que chegou a afirmar que no final de outubro uma vacina estará disponível para profissionais da área da saúde, pessoas debilitadas e idosos.
A intenção de Bolsonaro é colar a imagem do governo na produção da imunização, grande disputa mundial. O ministro disse a Trindade que o Ministério da Saúde separou R$ 1 bilhão para esses acordos, e vai ir atrás da vacina russa Sputinik V, que deve ser produzida também no Paraná; e da AstraZeneca, produzida pela Universidade de Oxford em parceria com a FioCruz, cujos testes foram suspensos após um dos pacientes ter apresentado reações adversas graves no Reino Unido. A única imunização que Bolsonaro mostrou forte resistência é a “vacina do Doria”, ou seja, a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Testes suspensos
Nesta terça-feira, a farmacêutica britânica AstraZeneca anunciou a suspensão dos testes com a vacina de Oxford. Os estudos foram paralisados em todos os centros que participam da pesquisa, inclusive no Brasil, onde os testes são realizados em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e com a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz). “Vai demorar para determinar se esse evento adverso foi ou não causado pela vacina”, afirmou a médica oncologista e imunologista Nise Yamaguchi em entrevista ao Os Pingos nos Is, nesta quarta-feira, 9.
Segundo ela, que foi uma das poucas profissionais de saúde a defender abertamente a hidroxicloroquina, o debate sobre as vacinas será “acalorado”. “Estamos iniciando os debates, vai haver questões relativas a todos os subtipos, cada um vai trazer o seu aspecto e seu ponto de vista e terá uma discussão na comunidade cientifica”, disse. Por ser uma questão ainda muito rodeada de dúvidas, a médica salientou para a importância do tratamento precoce contra a Covid-19, “que é o que temos hoje”. “O ideal é que a gente trate rapidamente. Durante as fases intermediárias temos o uso de corticoides, e houve diminuição da mortalidade com o uso dessas medicações”, afirmou.
Polêmicas
Nise também comentou sobre o pedido de suspensão feito pelo Hospital Albert Einstein, onde trabalha, devido à defesa da cloroquina e a uma declaração da médica feita ao programa “Impressões”, da TV Brasil, quando ela afirmou que “você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela massa de rebanho de judeus famintos se não os submetessem diariamente a humilhações, humilhações, humilhações…”. Segundo ela, em relação ao medicamento, “não houve nenhuma infração ética”. “Defendi algo que era correto e que tem um ponto de vista. O Conselho Federal de Medicina (CFM) é no Ministério da Saúde.”
Já em relação a fala sobre o nazismo, Nise disse “não se tratar de nenhuma inverdade”, apenas “fatos históricos”. “Não faria sentido uma punição sumária sem o contraditório. Eu continuei atendendo sempre porque nao poderia deixar meus pacientes de lado e acredito no bem, e que as instituições tenham que ter a sua transparência porque isso teve uma repercussão enorme, inclusive para a minha carreira. Mas quem me conhece sabe que a minha intenção é a mais profunda, de ter o benefício do ser humano”, finalizou.
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