‘Certamente há responsabilidade do governo’, diz historiadora sobre explosão no Líbano

O Pânico recebeu a historiadora Arlene Clemesha, diretora do Centro de Estudos Árabes da Universidade de São Paulo (USP), para falar sobre a tragédia em Beirute

  • Por Jovem Pan
  • 05/08/2020 14h07
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EFE/EPA/NABIL MOUNZER A explosão em Beirute, no Líbano, deixou ao menos 100 mortos

A historiadora e diretora do Centro de Estudos Árabes da Universidade de São Paulo (USP) Arlene Clemesha afirmou, em entrevista ao Pânico nesta quarta-feira (5), que o governo do Líbano tem responsabilidade pela explosão em Beirute nesta terça-feira (4). A tragédia deixou pelo menos 100 mortos e mais de 4 mil feridos e foi causado por uma carga de nitrato de amônio apreendida no porto da cidade há seis anos. “Certamente há a responsabilidade do governo por deixar esse material por seis anos no porto. A administração do porto chegou a mandar cartas para o governo e nunca teve uma resposta”, disse. “O problema é o descaso do governo com essa carga”, lamentou Clemesha.

A especialista disse que as chances de isso ter sido um acidente são muito grandes e é irresponsável apontar um suposto atentado terrorista, como fez o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Se isso for um atentado ou o governo atual criar uma versão de atentado para se livrar de culpa, isso vai colocar mais uma vez o Líbano no centro de uma conflitividade regional”, explicou. “Tudo que não se quer nesse momento é inserir o Líbano de cheio no quadro das brigas regionais”, continuou a historiadora. “O país vai precisar de muita ajuda humanitária, as condições econômicas são precárias.”

Clemesha explicou que o Líbano vive uma situação muito difícil, com crise política e econômica. “Além da crise econômica é um país que vem vivendo ciclos de manifestações de rua”, disse. O cenário foi agravado pela guerra na Síria, que fez com que o Líbano recebesse muitos refugiados. Mas a população está descontente com o governo há quase uma década. “Desde 2010, a população tem pedido uma total reorganização da política nacional, como se quisesse recomeçar do zero”, disse. “É uma grave crise econômica e política, o problema da Covid-19 também ataca o país, e essa explosão cria uma devastação que guerras não conseguiram”, lamentou a professora.

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