‘Covid-19 se trata com ciência, não com ideologia’, diz cardiologista Ludhmila Hajjar

Em entrevista ao Pânico, médica esclarece que cloroquina não possui eficácia contra o coronavírus e explica que o Brasil enfrenta novo pico da doença

  • Por Jovem Pan
  • 23/11/2020 15h15 - Atualizado em 23/11/2020 15h18
Imagem: Reprodução/Entrevista Pânico Para Dra. Ludhmila Hajjar, Brasil não enfrenta segunda onda de Covid-19

Em entrevista ao programa Pânico nesta segunda-feira, 23, a médica cardiologista Ludhmila Hajjar avaliou que o Brasil ainda não enfrenta a segunda onda de Covid-19. “Observando os números, detectamos o primeiro paciente com coronavírus em março e vimos, a partir de então, um aumento exponencial dos casos nos meses seguintes. Em outubro e no começo de novembro vivemos uma queda, mas nas últimas duas semanas a quantidade de casos cresceu, assim como a taxa de internação e ocupação dos leitos de UTI. É inquestionável que passamos por um momento de elevação do número de casos, mas não podemos chamar de segunda onda. É preciso interpretar como um novo pico da doença porque, quando os outros países avaliam que enfrentam uma segunda onda, percebem o contágio aumentando após praticamente zerar as mortes e baixar drasticamente a quantidade de casos. Portanto, nestas nações, a primeira onda realmente terminou. Não podemos dizer isso do Brasil. Ainda não eliminamos a primeira onda. Estamos vivendo um momento de pico ainda dentro dela e, dependendo do comportamento da população e das autoridades, poderemos enfrentar a segunda onda ou não”, explicou.

Segundo a médica, o tratamento precoce e acessível da doença é fundamental para que novas mortes sejam evitadas. “Normalmente, durante os primeiros cinco dias de infecção, o paciente tem os sintomas de uma gripe comum. No entanto, o quadro de saúde pode se agravar entre o quinto e o décimo dia de contágio, quando o sistema imunológico reage e, ao atacar o vírus, pode atacar o próprio organismo, causando severas consequências”. Ela reiterou que a gravidade da Covid-19 em cada paciente depende da colisão entre o indivíduo, sua imunidade e o próprio vírus. “A pessoa pode ser infectada por uma pequena carga viral, mas sua própria defesa, ao atacar o vírus, cria uma inflamação forte e ocasiona um quadro clínico grave. Por outro lado, ela pode receber uma carga viral enorme, mas sua defesa funcionar adequadamente, não resultando em inflamação e gerando, portanto, um quadro clínco mais leve”. Por conta de todas as especificidades, Hajjar reforçou que o cuidado ao paciente deve ser individualizado. “Não podemos tratar as pessoas com base em ideologias. A cloroquina, por exemplo, que foi extremamente ideologizada no início da pandemia, não serve para a Covid-19. Está completamente comprovado cientificamente. É uma medicação excelente para tratar outras doenças, mas os estudos mostraram que, tanto a hidroxicloroquina, quanto a cloroquina, não possuem eficácia na prevenção e no tratamento do coronavírus”, afirmou.

Com os olhos no novo pico da pandemia, a cardiologista indicou três pilares essenciais para o combate da doença. “Estamos diante de uma pandemia que ceifou milhares de vidas. Até o momento não há nenhuma medicação que possa previnir o contágio ou qualquer vacina disponível. A única maneira que temos para evitar a disseminação do vírus é usar máscaras, evitar aglomerações preservando o distanciamento social e rastrear os casos, para que possam ser contidos”. Para ela, “o Brasil fez tudo errado” no enfrentamento da Covid-19, considerando o isolamento heterogêneo – cada estado com suas regras, a baixa testagem na população e a propagação de informações equivocadas. “Espero que nessa nova fase o governo e a sociedade aprendam, traçando um caminho baseado em ciência”, concluiu.

Confira a entrevista com a médica cardiologista Ludhmila Hajjar:

 

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