‘Filme desperdiçou coisas importantes sobre Suzane von Richthofen’, diz autor de biografia

Em entrevista ao Pânico, Ulisses Campbell afirmou que roteiro poderia ter explorado outras fases do depoimento: ‘Quem escreveu foram os advogados’

  • Por Jovem Pan
  • 08/10/2021 16h17
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Reprodução/Pânico Ulisses Campbell fala no microfone no estúdio do programa Pânico Ulisses Campbell, autor de biografia 'Suzane: Assassina e Manipuladora', foi o convidado do programa Pânico desta sexta-feira, 8

Nesta sexta-feira, 8, o programa Pânico recebeu o jornalista e escritor Ulisses Campbell, autor da biografia de Suzane Von Richthofen, “Suzane: Assassina e Manipuladora”. Em entrevista, ele criticou o formato escolhido para retratar o crime nos filmes “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais“, dividido em dois longas metragens que mostram o depoimento dos acusados em júri. “Fizeram uma escolha errada em dividir os dois filmes para decidir quem matou quem. É claro que a Suzane é a mandante e o Cristian e Daniel são os executores. Não existe dúvida de quem matou, não é importante saber quem manipulou quem, é vazio. O filme acabou desperdiçando coisas importantes que ficaram de fora para saber quem é a Suzane, ela tem o diagnóstico de manipuladora dos psicólogos dentro da cadeia. O Daniel e o Cristian fizeram o mesmo teste e se mostraram arrependidos. No início da minha pesquisa eu me perguntava, porque eles estavam soltos na época, e a Suzane não? Ela não consegue um bom êxito no teste, ela nunca mostrou arrependimento.”

O jornalista ainda opinou que os filmes poderiam ter abordado outras fases do depoimento de Suzane e dos irmãos Cristian e Daniel Cravinhos. “Duas coisas me incomodam, essa de mostrar o Manfred como agressivo, o que é perigoso, porque quando você pinta a vítima como agressiva e alcoólatra, você induz a entender que ela pavimentou um caminho para terminar daquele jeito.” Para Ulisses, o filme conta uma parte do crime que foi pré-estabelecida por advogados dos executores, em uma tentativa de encurtar a pena, e não de mostrar a realidade dos fatos ocorridos. “O maior erro do filme é se basear no depoimento do tribunal do júri. Para quem entende de direito criminal, a Suzane e os Cravinhos primeiro foram investigados. Nessa fase o depoimento era cristalino, estava muito quente. Ela só confessa depois que a delegada traz o depoimento do Daniel e do Christian. Não foram quaisquer advogados, eram os melhores advogados em São Paulo, participaram dos dois lados, o advogado cria uma tese, uma história, para fazer com que tenham a menor pena possível. Desprezaram a fase de inquérito, quem escreveu o roteiro foram os advogados.”

Após realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Suzane von Richthofen foi aprovada para cursar a graduação em Biomedicina, em faculdade privada na cidade de Taubaté, no interior de São Paulo. Sobre isso, Ulisses afirmou acreditar que a escolha do curso é uma tentativa de reaproximação da criminosa com o irmão mais novo, Andreas von Richthofen, doutor em Química pela USP. “A lei permite que o preso ressocialize, isso é uma forma de ressocializar, muitos outros presos fazem isso. Ela escolheu o mesmo curso que o irmão dela, o Andreas se tornou um farmacêutico biomédico, muito talentoso. Eu vejo essa escolha como uma tentativa de reaproximação do irmão, algo que ela tenta fazer desde que foi presa”. O autor ainda opinou sobre a ocasião em que o irmão de Suzane invadiu um imóvel em São Paulo sob efeito de drogas. “Ele não é um drogado, ele marcou um encontro com a irmã, mas no caminho ele não suportou o peso psicológico e resolveu voltar. Neste evento, teve um surto e se drogou. Ele continua trabalhando, teve convites para trabalhar fora do Brasil, ele honra o sobrenome da família.”

Confira na íntegra a entrevista com Ulisses Campbell:

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