Renan é aposta de governabilidade e não será denunciado

  • Por Jovem Pan
  • 12/08/2015 09h59
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Renan Calheiros (PMDB) em 2013 Antonio Cruz/Agência Brasil Renan Calheiros (PMDB)

Reinaldo, que história é essa de triângulo perfeito da impunidade que se tenta construir em Brasília?

Brasília é uma terra de sonhos e pesadelos, vocês sabem. Em algum lugar, há gente sonhando, assim, deixem-me ver como posso falar…, com o triângulo perfeito da impunidade. A feitiçaria consistiria no seguinte, prestem atenção — sempre destacando que sonhos podem não acontecer, né? Especialmente quando são revelados… Não dá sorte! No caso, a pessoa que sonhou com a patranha já andou contando por aí, e só por isso eu estou tornando a coisa pública aqui. Ó, pessoal, nem vou ouvir os “outros lados”, tá? Não existe “outro lado” para exercícios de imaginação alheia, certo?

Então vamos ver.

Renan Calheiros (PMDB-AL), nesta terça, discursando no Senado, depois de ter apresentando a sua pauta de 28 propostas e ter assegurado à presidente Dilma que a Casa se comportará como âncora da estabilidade, era de uma segurança verdadeiramente encantadora. A gente consegue reconhecer quando um político atua de modo firme, olhando para o horizonte, com uma perspectiva de longo prazo.

E não é que eu olhei pra ele e achei que se parecia mesmo com a personagem daquele tal sonho? Sim, naquela prefiguração, prestem atenção!, Rodrigo Janot, o procurador-geral da República, não apresentará denúncia contra Renan ao Supremo. Isto mesmo: o homem que passou a atuar furiosamente contra o governo quando entrou na lista de investigados do procurador-geral da República — com simples inquérito — ficaria livre dos esguichos da Lava-Jato. No sonho que se sonha em Brasília, dois petistas de médio porte também ganhariam um “nada se provou que mereça denúncia”: os senadores petistas Humberto Costa (PE), líder do governo na Casa, e Gleisi Hoffmann (PR).

Renan virou a grande aposta de governabilidade da presidente, como vocês sabem. O Planalto dá como certo que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não renunciará à Presidência da Câmara mesmo depois de denunciado por Janot. Este, por sua vez, poderia recorrer ao Supremo com uma medida cautelar pedindo o afastamento do outro, mas tem a certeza de que perderia. Assim, na Câmara, a tensão continua.

Renan precisa de um reforço compatível com aquele ar de estadista, conselheiro e senhor do bom senso que exibiu nesta terça. Era um verdadeiro Varão de Plutarco dando aula sobre o futuro do Brasil, ainda que a sua tal agenda de governabilidade nada trouxesse de muito novo. Como eu já havia lembrado ontem aqui e como lembrou o próprio Cunha, o país tem um regime bicameral. O Senado pode até impedir isso e aquilo, mas não aprova sozinho isso e aquilo. Calma que a coisa bem vai mais longe!

Fortalecer Renan é importante porque aquele sonhador aposta que o senador pode influenciar de forma decisiva três ministros do TCU: Bruno Dantas, Raimundo Carreiro e Vital do Rego — potenciais votos contrários a Dilma. Na lista dos favoráveis, o Planalto aposta em Walton Alencar Rodrigues, Benjamin Zymler e José Múcio. Aí já haveria 6 de 9 em favor de Dilma. Lula resolveu colocar na sua cota pessoal de conquista Ana Arraes: 7. Aroldo Cedraz, o presidente, só votaria em caso de empate: 8. Na imaginação dos companheiros, o relator, Augusto Nardes, restará sozinho com a sua recomendação para que se rejeitem as contas.

Primeiro sinal: o governo quer adiar a votação do TCU para o fim do ano. O que é preciso para isso? Que o assunto não seja pautado — o que depende de Cedraz — ou que algum ministro peça vista. Um deles já teria se mostrado simpático à ideia. Não custa lembrar: o presidente do tribunal está sob artilharia porque Tiago Cedraz, seu filho, foi acusado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, de receber R$ 1 milhão para fornecer informações privilegiadas sobre o tribunal. O destinatário de parte do dinheiro seria… Carreiro. Todos negam. Vital também está sob bombardeio, acusado de ter recebido dinheiro desviado da Prefeitura de Campina Grande.

Ainda segundo esse sonho meio pornográfico, o mesmo Renan, agora com as vestes de estadista, facilitaria a aprovação do nome de Rodrigo Janot no Senado.

O tal sonhador preparou um desfecho bom para todos os amigos e amigos dos amigos. Janot seria reconduzido ao cargo, e a Operação Lava Jato continuaria, à sua moda, implacável. Renan se livraria de uma denúncia. O TCU recomendaria a aprovação das contas da Dilma, e a oposição não teria, então, “o” motivo — não pelas pedaladas ao menos — para apresentar uma denúncia contra a presidente. Na Câmara, Cunha seguiria como um dos inimigos do Planalto.

Sabem como são os sonhos. Eles não economizam imaginação. Com o governo se fortalecendo um pouco, as bases de Cunha começariam a avaliar a inconveniência de se ligar a alguém que o governo tem como inimigo declarado e começariam a debandar Em que a tramoia que sonha com a impunidade seria positiva para o Brasil? Em absolutamente nada! Só beneficiaria aqueles que dela se beneficiassem, se é que me permitem a tautologia.

Pronto! Contei o sonho ruim que andam tendo em Brasília. Agora cumpre que os decentes se esforcem para que não vire realidade.

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