Boulos tira o lugar de Lula na liderança da esquerda brasileira
Partido dos Trabalhadores entra em crise no dia da eleição após o ex-presidente criticar o próprio candidato petista em SP, Jilmar Tatto, por ser o responsável pelo partido não apoiar o candidato do PSOL
Tem-se que começar com uma frase do prefeito Bruno Covas: “Parece que não foi um bom negócio o Bolsonaro se meter na eleição de São Paulo”. Nesse momento, Covas (PSDB) já tinha garantido o primeiro lugar da apuração dos votos, indo para o segundo turno com Guilherme Boulos (PSOL), que se especializou em invadir prédios levando a tiracolo pessoas que vivem nas ruas carregando sua pobreza. Confirmados no segundo turno, Covas e Boulos falaram à população usando máscara. Covas observou que nesta eleição São Paulo quer experiência: “A esperança venceu os radicais neste primeiro turno e vencerá também no segundo”. Assinalou que o carinho de São Paulo aumentou sua responsabilidade. Há muito que fazer. A crise está aí. E só alguém experiente tem condições de enfrentar este momento difícil. Covas garantiu estar preparado. Afirmou que São Paulo não vai retroceder, adiantando que a cidade não deseja ilusões, quer a realidade e a força para vencer: “Governar não são palavras, mas atitudes”, afirmou, tendo ao seu lado o governador João Doria. Guilherme Boulos, por seu lado, disse que São Paulo depositou sonhos nas urnas e não ódio. “Em 2018, tudo foi feito com ódio e deu no que deu”, afirmou, explicando que é possível fazer política com esperança e brilho nos olhos. Referiu-se à periferia, lembrando que muitos políticos visitam essa região de quatro em quatro anos. “Vencemos Bolsonaro e seu projeto de ódio”, afirmou Boulos, concluindo que sua chapa formada com Luiza Erundina representa a mudança que começa agora: “O jogo vai virar a partir deste momento”.
Covas é advogado formado na USP e economista pela PUC-SP. Participou ativamente do combate ao vírus chinês em São Paulo. Mesmo doente, mandou instalar um quarto na prefeitura, onde dormia para cumprir os compromissos contra o coronavírus. Os votos que recebeu reconheceram essa atuação especialmente num país em que a doença é tratada com deboche. Outra coisa: na campanha, Bruno Covas procurou se distanciar do governador paulista João Doria, que soma alto índice de rejeição – mas Covas nega. Já Boulos formou-se em filosofia, também na USP, a universidade dos meninos ricos. Fez filosofia, mas especializou-se em invasões, tornando-se um ativista político. Atualmente é membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.
A eleição em São Paulo foi aquela festa de sempre. Muitas vezes tudo vira uma zona. Mas desta vez a pandemia brecou um pouco aquela farra de sempre de eleitores que nem sabem ao certo o que estão fazendo e o que devem fazer da vida. As moças estavam lindas em sua maioria. Durante a tarde, bolsonaristas se empenharam em compartilhar informações falsas sobre tentativas de fraudes nas eleições municipais. Isso começou quando o Tribunal Superior Eleitoral informou que houve uma tentativa de ataque hacker no sistema de votação. Esse assunto morreu como nasceu. Luiz Inácio Lula da Silva se mostrava arrasado no final da apuração e criticou duramente o candidato do PT, Jilmar Tatto, a quem acusa de ser o responsável pelo partido não apoiar Guilherme Boulos. Bastaram essas palavras para o PT entrar em crise no dia da eleição. Aquelas crises de sempre. Lula já deixou claro que não deseja que sua cara seja colada na derrota arrasadora petista em São Paulo. Foi um massacre. Dias antes da eleição, Lula se reuniu com a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, para discutir afastar Jilmar Tatto da disputa a fim de apoiar Boulos – mas Tatto disse não. A conversa acabou por aí. O problema maior é que Boulos está tirando o lugar de Lula na liderança da esquerda brasileira. Lula ainda não percebeu que seu tempo passou e Boulos vai conquistando seu lugar. Está certo que é uma esquerda vagabunda, com um discurso dos anos de 1960, mas é sempre alguma coisa.
A Justiça eleitoral brasileira não conseguiu julgar até domingo, 15, todas as ações referentes a registros de candidaturas. Significa que 15.090 candidatos a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores estão sub júdice. Por esse motivo, muitos resultados poderão ser alterados ainda. Esses 15.090 candidatos correm o risco de não tomar posse, caso sejam eleitos, de acordo com o Superior Tribunal Eleitoral. Em todo o país, exatamente 9.521 candidatos ficaram fora da disputa por que tiveram o registro negado. Muitos ministros do presidente Bolsonaro mergulharam de cabeça na reta final da campanha eleitoral. Contrariaram a pedido do próprio Bolsonaro, que não queria ninguém do governo envolvido na eleição. Mas ele mesmo se envolveu com alguns candidatos que não se deram bem, aliás. O Congresso Nacional está completamente vazio faz alguns dias. Deputados e senadores foram para suas bases a fim de fazer campanha para filhos, esposa, genro, tio, tia, avô, primos, vizinhos, irmãos. A mamata é boa. Ninguém quer largar o osso. As más línguas dizem – mas eu não acredito – que no Rio de Janeiro o presidente Bolsonaro votou nele mesmo para vereador.
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