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Fanatismo cego boicota até campanha da CNBB que prega fraternidade, diálogo e amor

Papa Francisco

Os tempos são outros. Bem outros. Os inimigos da harmonia estão em todo lugar com atitudes negativistas nunca vistas no Brasil. Há grupos extremistas – isso não falta – que já começaram a boicotar a Campanha da Fraternidade de 2021, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e Conselho Nacional das Igrejas Cristãs. O tema da campanha deste ano desagradou aqueles que fazem tudo por uma desordem, em nome de um conservadorismo que este país não aguenta mais. O tema é: “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor”. A campanha critica duramente a violência contra mulheres, negros, indígenas e LGBTQI+, além de desaprovar a conduta negativista e o descaso no combate à Covid-19. Claro que isso não iria agradar grupos espalhados no país que usam a democracia para destruir a própria democracia. Trata-se de uma “mentalidade polarizada”, no dizer de dom Joel Portella Amado , secretário-geral da CNBB, para quem isso está ocorrendo no mundo inteiro. Uma avaliação simplista demais.

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Atrás dessas primeiras manifestações, existe, sim, muito ódio que tem comando. Dom Joel observa que num tempo de fanatismo, o equilíbrio entre a e a ciência tem sido muito difícil. E mais: a indiferença para com o outro está se tornando um estilo de vida, o que é verdade, já que os dias são de um egoísmo cada vez mais intenso. Basta ver, por exemplo, a questão dos fura-filas na vacinação contra a Covid-19, em que a vida do outro não importa. Num questionário por escrito respondido ao jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, o secretário-geral da CNBB afirmou que os temas das Campanhas da Fraternidade são escolhidos sempre com uma antecedência de pelo menos dois anos. Observou que a Igreja Católica traz no seu DNA a defesa da vida como condição irrenunciável. O tema deste ano quer mostrar que não é possível construir um país de indiferentes. A indiferença mata, especialmente pela omissão e os braços cruzados diante da dor das pessoas. Exatamente. É o que mais acontece hoje. É cada um por si.

Poucos são ainda aqueles que auxiliam o outro a viver nesta verdadeira barbárie para a qual o mundo caminha atualmente. Dificilmente se pratica um gesto de caridade. E não poderia ser diferente com a política atual em vários países, também no Brasil, onde a ordem parece ser negar tudo. Veja o caso da Covid-19, como a doença foi tratada desde o início, com descaso e discursos obscurantistas. A Campanha da Fraternidade é uma iniciativa que merece respeito. Se é que ainda existe respeito entre as pessoas. Num tempo assim difícil, a CNBB pode ser chamada de uma entidade romântica, além de religiosa. Machado de Assis (1839-1908), escreveu que lágrimas não são argumentos. É possível que não sejam. Mas há um momento em que não existe nenhum argumento senão a lágrima e o pedido de socorro numa sociedade que caminha sem rumo ou se aventura a seguir “lideranças” que negam a realidade das coisas com a linguagem da violência, uma certa intimidação que encosta o outro na parede. É como um fuzilamento. Não há escapatória porque o tiro é no coração. É esperar o disparo e cair.

A participação da Igreja nas questões políticas data de séculos, sempre ao lado dos mais fracos. Na história recente brasileira, a CNBB se notabilizou por uma presença sempre firme. Mas não foi assim no golpe militar de 1964, quando parte do clero apoiou o movimento. Ao longo do tempo, mudou sua posição, que se resume numa única frase do documento “Por tempos novos, com liberdade e democracia”, que a CNBB publicou quando o golpe completou 50 anos: “O regime de 21 anos fez do Brasil o país da dor e da lágrima”. A entidade reafirmou o compromisso com a defesa de uma democracia participativa com justiça social para todos. Por fim, chamou a ditadura de “um dos períodos mais sombrios da história brasileira”. Que siga a Campanha da Fraternidade aos tropeços, como tem sido nos últimos anos. E neste ano, particularmente, será pior, porque os inimigos já não se escondem. Estão em todo lugar. Especialmente com relação à posição da confederação dos bispos diante da conduta do governo na pandemia. Ser generoso, por exemplo, é um comportamento que praticamente não existe mais. O mesmo ocorre com a solidariedade. Infelizmente, o mundo se tornou nisto que vivemos todos os dias.

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