Comunicado do PT sobre morte de Raynéia é recheado de cinismo

Agência EFE "Um vigilante de segurança privada, em circunstâncias ainda não determinadas, realizou disparos com arma de fogo, um dos quais a impactou e causou ferimentos", informou a Polícia Nacional

O PT, apoiador de Daniel Ortega, finalmente se manifestou sobre a morte da estudante brasileira de medicina Raynéia Gabrielle Lima, assassinada na Nicarágua na segunda-feira.

A nota assinada por Mônica Valente, secretária de Relações Internacionais do partido e mulher do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, pede às “autoridades nicaraguenses a pronta apuração dos fatos que cercam este crime que vitimou uma jovem que nada tinha a ver com os conflitos locais”.

E se tivesse a ver, Mônica? Se Raynéia fosse uma manifestante contrária a Ortega? O assassinato estaria liberado? Segundo testemunhas e colegas, Raynéia foi vítima de paramilitares que apoiam a ditadura. Ou seja: milícias do ditador apoiado pelo PT.

A nota do partido afirma também que “a paz e a reconciliação da sociedade nicaraguense somente será alcançada por meio do diálogo político entre governo e oposição, sem ingerências externas”.

É um comunicado cínico, claro.

O “diálogo político” da ditadura de Ortega já matou mais de 360 pessoas nos protestos pelo país, muitas delas estudantes universitárias, como Raynéia.

As milícias mataram, por exemplo, o adolescente Leyting Chavarría, de 16 anos, na pequena cidade de Jinotega.

E, enquanto o corpo do jovem era velado, uma dezena de paramilitares encapuzados ainda chegou ao cúmulo de abrir fogo contra os parentes e amigos do rapaz, ferindo pelo menos 15 pessoas. Isso mesmo: mataram o estudante e abriram fogo no enterro.

E a mesma Mônica Valente que assinou a nota de ontem havia tentado justificar a carnificina oito dias antes, como comentei aqui, em seu discurso no encontro do Foro de São Paulo em Cuba, quando ela disse:

“Depois de tantos sucessos, sofremos uma contraofensiva neoliberal, imperialista, multifacetada, com guerra econômica, midiática, golpes judiciais e parlamentares, como ocorre na Nicarágua e ocorreu na Venezuela”.

O que ocorre tanto na Nicarágua quanto na Venezuela é o assassinato de inocentes por milícias que só dialogam com aqueles que defendem suas ditaduras de estimação.

Ainda bem que, no Brasil, o PT não está mais no poder.

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