Felipe Moura Brasil: As hipóteses do caso da ex-mulher de Bolsonaro
A extrapolação dos limites do que se pode concluir a partir dos elementos disponíveis até o momento contamina qualquer debate, especialmente em casos confusos.
O da ex-mulher de Jair Bolsonaro é exemplar neste sentido.
O embaixador que registrou em telegrama a ameaça que Ana Cristina Valle teria sofrido dele não ouviu diretamente dela o relato. Alegou que a informação lhe foi passada por um vice-cônsul, que teria falado com ela.
O vice-cônsul não foi identificado pela imprensa. Não veio a público, portanto, lembrar como obteve a informação que lhe é atribuída.
Ana Cristina, sim, negou a ameaça e disse que só o marido norueguês dela falou com alguém da embaixada brasileira na Noruega e que ele não falou nada sobre isso.
Há três hipóteses básicas em jogo, que listo sem qualquer ordem de confiabilidade.
Uma, mais generosa, é que a ex-mulher de Bolsonaro não mentiu em nenhuma ocasião, ou seja: não teria relatado ameaça alguma anos atrás e apenas reiterou agora que não o fez. Neste caso, por especulação lógica, teria havido má-fé de qualquer um dos envolvidos no episódio à exceção de Ana Cristina, ou algum mal-entendido na comunicação entre eles, seja entre o marido e o vice-cônsul, seja entre este e o embaixador, seja qualquer outro ruído entre intermediários.
A segunda hipótese é que a ex-mulher de Bolsonaro mentiu anos atrás, no calor da disputa judicial pela guarda do filho de 12 anos, acusando o deputado – inclusive para pessoas próximas – de ter feito uma ameaça que ele não fez, porque, como o embaixador registrou no telegrama, “aduziu ela que tal acusação poderia motivar pedido de asilo político neste país [Noruega]”. Neste caso, ela também teria mentido agora ao dizer que não relatou a ameaça, porque, na verdade, relatou mentirosamente uma ameaça que não sofreu.
A terceira hipótese é que Ana Cristina só mentiu agora, ao dizer não ter sofrido ameaça de Bolsonaro nem tê-la relatado, mesmo tendo sofrido e relatado.
Até o momento, não há 100% de confirmação de qual hipótese é a verdadeira, mas esta última, da qual Bolsonaro sairia com a imagem mais arranhada, é obviamente a preferida da turma anti-Bolsonaro na imprensa e nas redes sociais.
Tão preferida que as outras não são sequer aventadas.
Tão preferida que é tratada por alguns analistas como absoluta certeza.
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