Brasileiros pobres precisam deixar de acreditar em escola pública
Ensino gratuito é o principal inimigo dos pobres do nosso país por tornar ainda mais desigual o mercado regido pela meritocracia e acorrentar à miséria
Considere estas três informações. 1. Dos alunos de escolas públicas de São Paulo, 95% terminam o ensino médio sem saber o suficiente de matemática, de acordo com a última avaliação nacional do ensino básico, e metade se forma sem saber uma simples regra de três. 2. Pelo menos 530 escolas municipais paulistanas ainda não voltaram às aulas. Por falta de funcionários de limpeza, o retorno deve acontecer somente em março. 3. Professores estaduais faltam em média trinta dias por ano: todos os dias, seis mil deles não aparecem no trabalho.
Esses dados falam do Estado com melhor índice educacional do país: nem vamos imaginar o que ocorre nas regiões da metade para baixo dos rankings do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). E são anteriores à pandemia, sem considerar que agora todas as faltas dos professores estão previamente justificadas. É desanimador, mas é razoável concluir o seguinte: se tudo der certo, levará décadas para a educação estatal deixar de ser uma vergonha no Brasil. Por enquanto, a escola pública é a principal inimiga dos pobres brasileiros. Torna ainda mais desigual o mercado regido pela meritocracia; acorrenta os pobres (e as etnias discriminadas) à miséria. Se o seu filho estuda numa dessas escolas, é grande a possibilidade de se formar no Ensino Médio sem saber uma regra de três e com erros crassos de ortografia. É grande a possibilidade de trabalhar a vida toda como serviçal de quem estudou em escola privada. Essa constatação é triste, mas a mais razoável a se fazer.
Sendo assim, o que os pais deveriam fazer? Não vale fingir que o problema não existe ou que a solução é fácil. Os sindicatos de professores, com influência entre parlamentares, juízes e jornalistas, conseguem barrar inovações urgentes na educação. Para o bem dos seus filhos, é preciso parar de se iludir, e engolir uma verdade desagradável: relegar ao Estado algo tão importante quanto a educação não vai dar certo. “Então o que os pais devem fazer, se não têm dinheiro para escolas privadas?” A resposta é difícil, mas não é por isso que devemos manter a ilusão na escola pública.
Uma saída é lembrar do velho lema “do meu filho cuido eu”, e partir para o homeschooling depois da aula convencional, procurar bolsas em escolas privadas ou instituições filantrópicas, montar sistemas comunitários. No século 19, antes da criação da rede de educação pública, quase 80% dos ingleses já eram alfabetizados – isso mostra que havia educação muito antes da educação pública. E o livro “A Árvore Bela”, que acaba de ser publicado no Brasil pela Bunker Editorial, mostra casos impressionantes de escolas privadas para pobres de favelas da Índia e em povoados da África. Na maioria delas, os professores ganham menos que nas escolas públicas, mas os índices escolares são muito melhores. Soluções existem: o primeiro passo para encontrá-las é deixar de acreditar em escola pública.
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