Demora nas privatizações afeta até os IPOs

Em julho, o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometia quatro grandes privatizações de empresas em 90 dias; no próximo dia 5, o prazo vence sem que nenhuma desestatização prometida tenha ocorrido

  • Por Samy Dana*
  • 29/09/2020 13h19 - Atualizado em 29/09/2020 13h20
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Nelson Antoine/Estadão Conteúdo Pessoa olhando para um telão da Bolsa de Valores com números e nomes escritos O atraso nas privatizações prometidas por Paulo Guedes afeta ofertas iniciais de ações na B3

Em cinco dias, três ofertas iniciais de ações, IPOs na sigla em inglês, foram adiadas na B3. No última quarta-feira, 23, o banco de investimentos BR Partners, que atua na área de fusões e aquisições, desistiu de entrar agora na bolsa. Nesta segunda, foi a vez da Cosan anunciar o adiamento do IPO da Compass, empresa de gás e energia. Entre uma empresa e outra, veio o adiamento da oferta inicial da Caixa Seguridade, braço de seguros da Caixa Econômica Federal. A Caixa Seguridade era considerada até a quinta passada a joia da coroa dos IPOs no Brasil este ano. Sua entrada na bolsa era vista quase como parte informal do programa de privatizações do governo, sendo o primeiro passo para a venda da Caixa. Além do mais, dos R$ 70 bilhões que a bolsa devia levantar com o lançamento de ações no ano, R$ 50 bilhões viriam do IPO da Caixa Seguridade. No total, com a tripla desistência, a conta emagrece em R$ 54 bilhões. Como justificativa, as três empresas disseram o mesmo: as condições de mercado se deterioraram. A demanda por novas ações caiu e, com menos compradores, um preço mais baixo para os papéis. Com a perspectiva de levantar menos dinheiro, as empresas preferem esperar e tentar o IPO daqui a alguns meses, se for o caso.

É um cenário surpreendente diante do que se via um ou dois meses atrás. Em julho e agosto, era grande a euforia na bolsa com a chegada de novas empresas. Ações chegavam ao mercado e no primeiro dia de negociação subiam 20% ou mais. Agora, dos quatro últimos IPOs marcados, só um foi realizado, o da Hidrovias do Brasil, na semana passada. Foi a maior oferta de ações do ano, tendo levantado R$ 3,4 bilhões. Mas com a ação no menor valor desejado para o lançamento e queda de 1,8% no primeiro dia de negócios. Agora a percepção entre os investidores é de que a janela dos IPOs se fechou. Uma das explicações é a saída de estrangeiros do mercado brasileiro. São R$ 85 bilhões de reais só de janeiro a agosto. Mas pesa muito o momento ruim do Ibovespa. Com as preocupações sobre os gastos públicos tomando o cenário, a bolsa perdeu fôlego depois de subir entre abril e julho. E os IPOs são afetados. E o caso da Caixa Seguridade agora é um símbolo dos problemas do governo para fazer privatizações. Em julho, Paulo Guedes prometia quatro grandes privatizações de empresas em 90 dias. No próximo dia 5, o prazo vence sem que nenhuma desestatização prometida pelo ministro da Economia tenha ocorrido. E o único processo de venda de ao menos parte de uma estatal que vinha encaminhado não se sabe mais quando vai acontecer.

Confira quais IPOs foram adiadas na B3:

Br Partners – R$ 885 milhões

Caixa Seguridade – R$ 50 bilhões

Compass – R$ 3,2 bilhões

Total: R$ 54,08 bilhões

 

*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan.

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