‘Menos é mais’ é muito mais do que um mero dito popular, mas preferimos complicar
Problemas complexos muitas vezes exigem respostas simples e menos custosas, mas, segundo estudo de quatro universidades americanas, as pessoas tendem a acrescentar elementos desnecessários
O grande Leonardo da Vinci (1452-1519), artista e inventor da Renascença, um dos maiores gênios da história, costumava dizer que uma obra só estava perfeita quando não tinha mais nada para tirar. Eliminar o excesso seria, segundo ele, o caminho da perfeição. Recorrendo à premissa que, de tão usada, ficou até batida hoje em dia, menos é mais. Mas quando se trata de resolver problemas, não é como funciona. Diante de uma questão de difícil solução, as pessoas tendem a acrescentar elementos, mais até do que procurar a resposta mais simples. A conclusão é de um estudo de quatro pesquisadores de universidades americanas publicado na semana passada na revista “Nature”, a mais importante sobre ciência no mundo.
Vamos imaginar que uma arquiteta precisa resolver um problema em um prédio. O telhado só tem um suporte e, nas simulações, balança perigosamente. Se o prédio foi construído desse jeito, pode desabar, causando uma tragédia. Mas existem duas soluções: aumentar a quantidade de tijolos em volta e escorar o telhado, gastando mais no projeto, ou tirar a base e apoiar o telhado direto no topo do prédio. A estrutura fica firme no lugar e não se gasta nada. Duzentas pessoas participaram do teste, que contou até com um modelo feito de Lego, aquele das peças de brinquedo, para que entendessem melhor. As duas soluções resolviam o problema, mas só uma era simples e sem custos. Racionalmente, a escolha certa era a gratuita. Mas seis em cada dez pessoas preferiram gastar mais. Encareceram a obra. Já quatro em cada dez optaram por tirar a peça e gastar menos.
O mesmo ocorreu em outro experimento. As pessoas deviam construir uma grade usando quadrados. Dava para ter o mesmo resultado usando mais ou menos peças. Metade dos participantes preferiu a abundância. Mas algo curioso: podendo tentar mais de uma vez, 63% deles passaram a optar pela grade com menos peças. O estudo ainda testou um cenário real. Um gestor, recém-promovido, perguntou à equipe como melhorar a política da empresa. Algo que poderia ser obtido adicionando ou tirando uma das regras. Para cada sugestão de acabar com a regra que não funcionava, o gestor recebeu oito recomendações para aumentar o número delas. Vivemos, sugere a pesquisa, em uma cultura que valoriza o acréscimo. É considerado produtivo botar em vez de tirar. Excesso de burocracia e de regulação, dois males que, como brasileiros, conhecemos, podem ser frutos desta tendência. E profissionais de todas as áreas podem sofrer do mesmo mal. Isso geralmente encarece obras, soluções de trabalho e a vida em geral. Fica a conclusão: menos é mais mesmo, não é só uma frase popular.
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