Mesmo para os bilionários, o sucesso na China depende do governo
Enquanto Zhong Shanshan comemora entrada em lista dos mais ricos do mundo, Jack Ma, o criador do Alibaba, cai em desgraça por não manter relação tão amistosa com Partido Comunista
Na lista das maiores economias, a China ocupa a segunda posição. É o parceiro comercial número 1 de muitos países, como o Brasil. Mas, até agora, um espaço ainda se mantinha distante da influência do país: a lista das pessoas mais ricas do mundo. Não mais. Zhong Shanshan, presidente de uma fabricante de água mineral, a Nongfu Spring, entrou direto no sexto lugar da lista de bilionários da revista Forbes, que acompanha o sobe e desce do dinheiro entre os mais ricos. Ele é dono de uma fortuna que passa de US$ 91,8 bilhões, construída numa trajetória bem típica para um bilionário do país. Abandonou a escola na juventude, sendo operário e vendedor antes de abrir um negócio próprio.
Os 6 mais ricos
- Jeff Bezos 188 bilhões
- Elon Musk 176 bilhões
- Bill Gates 131 bilhões
- Bernard Arnault 113 bilhões
- Mark Zuckerberg 103 bilhões
- Zhong Shanshan 91,8 bilhões
A empresa de água mineral, criada em 1996, é uma das marcas mais conhecidas da China. Além de engarrafar água, produz outras bebidas, como sucos. Abriu seu capital em setembro e, em quase quatro meses, as ações triplicaram de valor, levando o dono, que possui mais de 90% dos papéis, direto para a lista da Forbes. A presença chinesa na lista só não é maior devido à atual situação de Jack Ma. O criador do grupo Alibaba representa o outro lado do truculento capitalismo chinês. Ele é dono de uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 42 bilhões. Uma das empresas que controla, o Ant Group, dono do sistema de pagamentos mais popular do país, estava prestes a fazer seu IPO e captar US$ 35 bilhões.
A fortuna pessoal de Jack Ma chegaria perto dos US$ 80 bilhões e ainda poderia subir mais com a valorização das ações, garantindo um lugar entre os dez mais ricos do mundo. Mas o negócio foi interrompido pelos reguladores chineses. Dois meses atrás, ele sumiu, levando a especulações de que desapareceu ou até mesmo foi preso. Na quarta-feira, a empresa se pronunciou, dizendo que Ma não está preso, mas deixou a vida pública por um tempo, uma prática comum entre os mais ricos do país. Não é o primeiro caso. Apesar da fortuna, alguns deles saem de circulação após caírem em desgraça. O crime do bilionário, para o Partido Comunista Chinês, foi falar mal dos bancos locais. É o que basta no país. Os dois casos demonstram que, longe de apenas critérios práticos, como ter o produto ou serviço que agrada a mais pessoas, o sucesso no capitalismo chinês também depende da boa relação com o governo. O criador do Alibaba, famoso e extravagante, caiu em desgraça. Já Zhong Shanshan, novo sexto mais rico do mundo, é conhecido por não gostar de aparecer. O que é uma qualidade, diante das circunstâncias.
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