Samy Dana: Desigualdade existe, mas bilionários não aumentaram fortuna

Levantamento da Oxfam presta desserviço e não ajuda no debate sobre desigualdade

  • Por Samy Dana*
  • 30/07/2020 10h01
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joelfotos/Pixabay Cédulas de 50 e 100 reais organizadas em espiral Dados mostram que não houve aumento na fortuna de bilionários - ao contrário do que disse estudo da Oxfam

Um levantamento da ONG britânica Oxfam causou barulho essa semana ao apontar que, durante a crise, os bilionários brasileiros ficaram ainda mais ricos. As 42  maiores fortunas do país cresceram, segundo a ONG, que usa como base a lista de bilionários da revista Forbes, de um total de R$ 123,1 bilhões para R$ 157,1 bilhões entre 18 de março, início da pandemia do coronavírus, e 12 de julho. Um aumento de R$ 34 bilhões que ensejou uma crítica da Oxfam à desigualdade brasileira em tempos de covid-19. Segundo a instituição, enquanto os mais pobres são obrigados a sair de casa para sobreviver e se expõem à doença, os bilionários, protegidos, ficam ainda mais bilionários. Que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo não é novidade. Mas o estudo da Oxfam presta um desserviço a quem critica a má distribuição de renda, já que comete um erro grave. Como aponta o economista Carlos Góes, o problema está em se considerar o dia 18 de março como ponto de partida. Em princípio, não haveria problemas, mas esse é um ano atípico.

Pegando o Ibovespa, que reflete os preços dos ativos que mais flutuam conforme a riqueza dos bilionários brasileiros, dá para ver a distorção. Do dia 18 de março a 12 de julho, o principal índice da B3 registrou uma alta fortíssima, de 49,54%. A subida varia de papel para papel, mas, na média, justificaria a crítica ao aumento da riqueza dos mais ricos.

Ibovespa

18 Mar. – 12 Jul. +49,54%

No entanto, se você olha a variação da bolsa no ano os números mudam:

Ibovespa

2 Jan. – 18 Mar. -43,58%

2 Jan. – 12 Jul. -15,64%

O desempenho da bolsa sugere que a fortuna dos bilionários não aumentou no ano. Está 15% menor. Se recuperou durante a pandemia, mas, partindo de uma base muito mais baixa. Não levar em conta o ponto de partida é um erro comum, infelizmente, em alguns cálculos econômicos. No início do mês, por exemplo, as vendas no varejo apontavam alta recorde em maio. Mas só eram recorde depois de uma queda de quase 17% em abril. É preciso enfatizar qual base foi usada no cálculo. Fugir disso pode levar a algumas manchetes e muitas hashtags. Mas não ajuda nada no debate sobre a desigualdade.

*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan

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