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Samy Dana: Próxima tragédia do Líbano será econômica

O porto de Beirute após a forte explosão que aconteceu nesta terça-feira (4)

Passado o choque inicial da explosão que destruiu o centro de Beirute, a próxima tragédia a ser enfrentada pelo Líbano é econômica. É a opinião, por exemplo, de Nadir Hashemi, diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Denver, nos Estados Unidos. A tragédia, como Hashemi aponta, pegou o Líbano no pior momento. Devido ao coronavírus, o país já enfrentava uma grave crise na economia, obrigado a retomar medidas de isolamento em razão da uma disparada nas contaminações. Era um dos países mais bem sucedidos em conter a covid-19 até um mês atrás, com apenas 68 mortes. Mas desde o começo de julho a situação saiu do controle. O número de casos como de óbitos vem aumentando.

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A própria crise do coronavírus pegou a economia enfraquecida, já enfrentando os efeitos de décadas de irresponsabilidade fiscal de vários governos. A inflação no Líbano, de 4,5% ao ano, é alta para o país. Mas havia outros problemas: descontrole do câmbio, restrição de dólares e confisco de contas bancárias. A libra libanesa hoje não vale quase nada. O desemprego, de 6%, vem crescendo e metade da população vive abaixo da linha de pobreza. A dívida pública, de 170% do PIB, faz do Líbano um dos países mais endividados do mundo.

À penúria econômica se soma à destruição do porto de Beirute, o principal do país. O governo imediatamente transferiu as operações para o segundo maior porto, de Trípoli. Mas existe o temor de que numa economia altamente dependente de importados, pode faltar comida, suprimentos médicos e outros bens. Com o colapso econômico, vem também o medo do colapso social. O país já discutia um empréstimo de US$ 10 bilhões com o Fundo Monetário Internacional para reestruturar sua dívida. Dinheiro que se torna agora necessário para o país evitar o caos.

Beirute é uma capital cosmopolita e o sistema político libanês é um exemplo de convivência entre cristãos e muçulmanos, xiitas e sunitas, que dividem o poder em relativa harmonia. No entanto, a tragédia traz uma lição. Não há como evitar certas tragédias. Mas não cuidar da economia torna os piores momentos ainda piores.

*Samy Dana é economista e colunista da Jovem Pan.

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